sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Os Escudinhos da Revista Placar e seu legado

 
   Como a insônia está sendo minha companheira inseparável no stress do dia-a-dia, acabei de dividir um cachorro quente com meu gato, o popular Walter, e deixo minha mente mergulhar em boas lembranças, em coisas positivas, singelas, que sempre acalentam nossa alma e nos equilibram em meio de qualquer tempestade.
   Ao correr os olhos pela casa, observo no topo da prateleira algumas revistas antigas, com páginas amareladas, que traziam notícias inéditas do mundo, e hoje, se transformaram em documentos que descrevem a história. São algumas das minhas revistas Placar.


   No verão de 1987, entre meus dez e onze anos (faço aniversário em janeiro), minha mãe começou a comprar revistas em quadrinhos para mim. Eu preferia as do Mickey, em vez da Mônica. E ainda não estava preparado para os HQ's da Marvel ou DC Comics. Porém, meus olhos brilhavam num outro canto das tabacarias e bancas: nas revistas sobre futebol. E logo que fui morar com minha mãe e meu ex-padrasto pouco tempo depois (na época, eu morava com minha avó), consegui convencê-la a me dar o direito de livre escolha do que eu queria ler: a Revista Placar. Ainda mais que, eu tinha uma segunda opção, que seria o álbum de figurinhas da Copa União de 1987. Ela colocou no papel, pensou, e viu que a revista semanal seria mais em conta. rsrsrs



  A partir do segundo semestre de 1987, me tornei um leitor assíduo da revista. Lia todas as reportagens, a coluna do Juca Kfouri, o tabelão (onde eu recortava as escalações pra colar em meus times de botão), a última página de humor, nada escapava de meu olhar sedento infantil. E num cantinho especial da revista, dedicado às cartas dos leitores, estava a jóia preciosa de minha imaginação: os escudinhos de Placar. Times e seleções do mundo inteiro, que a Gulliver, Canindé ou outros fabricantes de futebol de botão não fabricavam, estavam ali. E na primeira revista que comprei estava o escudinho do Torino, da Itália, e um time brasileiro que não lembro. A tesoura parecia parte integrante de minha mão pelo cuidado. A cola era apenas uma gota. E aquele time de botão velho ganhava vida, transformando a mesa de casa no Stadio Comunale de Turim (eu ainda não tinha o campo de botão). Desde então, eu não perdoava troco de pão, não comprava merenda na escola e "chantageava" minha mãe toda vez que ela mandava eu buscar cigarro (sempre fui antitabagista rsrsrs). A revista da próxima semana sempre era o objetivo.


   Na Copa de 1982, eu ficava encantado com as bandeirinhas das tabelas dos jogos. E meu avô, seu Chico Alfaiate, naquela época, me ensinava as capitais do mundo e suas respectivas bandeiras. Apartir dali, sempre tive fascínio pelo futebol internacional. Adorava as partidas de campeonato italiano transmitidos pela Globo e Band, os clássicos Real Madrid e Barcelona que a Rede Manchete transmitia, as finais de Copa dos Campeões, Recopa e Copa da UEFA. a Placar intensificou em mim esse gosto e curiosidade. E os escudinhos saciavam esta paixão.


   No final de 1988, a Editora Abril, pra tornar a revista mais popular (barata), mudou seu formato. Páginas maiores, mais colorida, só 1 Cruzado Novo, e deixou de publicar dois meios times por revista (tinha sempre que comprar a revista subseqüente pra completar os times) para publicar 2 times por revista. Foi incrível! Com o sucesso, passaram a publicar 4 times completos por revista. Até o ápice: 5 times por revista!!! Loucura e delírio geral!!! Nunca recortei e colei tanto em minha vida!!! Faltavam botões!!! Foram publicados times do mundo inteiro, incluindo todas as seleções européias que disputavam as eliminatórias e todos os times que disputavam o campeonato italiano. Épico! rsrsrsrs


   Infelizmente, no final daquele ano, teve eleição pra presidente e um "caçador de marajás" acabou sendo eleito. No dia seguinte à posse, reteve o dinheiro na conta bancária de todos pra reter a inflação. Foi um caos. E a revista ficou um tempo sem ser publicada, pra não acabar de vez, passou a ser mensal, com temas especiais. Perdeu seu brilho. Chegou a lançar uma edição com escudinhos de 60 times da Europa, que me roubaram. Mas, infelizmente, a Placar nunca mais foi a mesma.


   A Revista Placar existe desde 1970. Nessa época, já publicava os escudinhos. Em 1989, chegou à edição 1000. Hoje em dia, segue mensal, mas fez edições especiais por jogo do Brasil na última copa. Algo que era comum nas copas anteriores ao Collor.
   Numa época de internet, onde qualquer informação está ao alcance de seus dedos, existem muitos blogs que fazem escudinhos inspirados no legado da revista. O que demonstra o quanto a revista marcou uma geração que não tinha PES ou Fifa pra fantasiar seu amor pelo futebol.


   Se hoje consigo escrever um texto desse tamanho corretamente, devo muito à Revista Placar. Infelizmente, alimentado por ela, não realizei o sonho de ser jornalista esportivo. Mas, pelo menos, nunca perdi uma discussão sobre o "esporte bretão". No máximo, um empate com cinco volantes. rsrsrs
 
   Obrigado, Placar. Por ajudar a formar o homem que sou hoje.
   
 

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