domingo, 30 de julho de 2017

Estranhos (Poema)









Somos estranhos
que nos encontramos
ao acaso.
Mas ao te ver,
pude perceber
que te desejava
antes de nascer.
Você era
a resposta
que eu escrevia
atrás da porta.
O sonho
sem rosto
que iluminava
o sono.
O sorriso bobo
que volta e meia
pousava
em meus lábios.
Sem te conhecer,
já te queria.
Por fé, crença
e sintonia.
Como uma história
já escrita
que não sabíamos
ler.
E ao te ver 
passar,
te deixo levar
no olhar,
a um lugar
onde só a lembrança
descansa.
Mas ao te ver
partir,
devo admitir
que somos só
estranhos,
cruzando caminhos
que o amor
não alcança.

by Cristian Ribas

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Fita Cassete (Poema)









Gravei sua música 
numa fita cassete
como uma súplica
que se repete
na minha cabeça.
Sou um velho
adolescente,
de mãos suadas,
olhar carente
que esquece 
o antes
pra te encontrar
agora.
Sei que o mundo
lá fora
não tem 
a mesma beleza,
mas nessa correnteza 
que nos molha
ainda temos força
pra nadarmos
contra.
Me deixa sentir
o que passa aí dentro
nesse momento
em que os corpos
se tocam.
Ouça meu walkman
enquanto dançam
as estrelas
no teu céu.
E quando a música
acabar,
volte a tocar
até me amar
de volta.

by Cristian Ribas

quinta-feira, 20 de julho de 2017

Sem Falar de Amor (Poema)








Não vamos
falar de amor.
Apenas me doe
o seu calor
na madrugada 
e segure 
minha mão
pela estrada
até a hora
de ficarmos
sozinhos
pelo caminho.
Não é pessimismo
ver a solidão
como destino.
É somente
o realismo
de quem aprendeu
que a vida
é o momento
que se torna
eterno
em teus braços.
Então,
me deixe
um pouco
da tua essência
enquanto brincamos
de indecências
sem se preocupar
quando o amanhã
irá chegar.
Só sinta
meu amor
agora,
pois o mundo
lá fora
ainda pode
esperar.

by Cristian Ribas

quarta-feira, 19 de julho de 2017

Teremos Tempo? (Poema)










Será 
que teremos
tempo?
Pra amar
nossos defeitos,
esquecer
o que tememos
e perdoar
quem nos feriu?
Será
que teremos
tempo?
Pra eu
te roubar
aquele beijo,
te despir inteira
e me embriagar
no teu cheiro?
Será
que teremos
tempo?
Pra brindar
com aquele vinho,
rirmos
de nossos caminhos
e adormecer
juntinhos?
Será
que teremos
tempo?
Pra brincar
com o destino
que nos deixou
sozinhos
colhendo
os espinhos
que plantamos?
Será
que teremos
tempo?
De aprender
com as dores,
de agradecer
os amores
e pintar
nossas cores
na aquarela
do outro?
Não sei
qual a resposta
que está
atrás da porta.
Só sei
que te quero.
Pelo tempo
que meu gosto
for o gozo
da tua alma.

by Cristian Ribas

segunda-feira, 17 de julho de 2017

O Pênalti (Conto)





O PÊNALTI

Não sinto mais minhas pernas. O ar entra com tamanha dificuldade em meus pulmões, mas não posso desistir agora. Esse goleiro desgraçado pegou tudo e esse relógio está voando. O jogo está acabando, mas vai sobrar uma bola. Tem que sobrar! Tenho que fazer esse zagueiro desgraçado engolir esse riso irônico de quem me caçou o jogo inteiro e saiu ileso de cartão graças a esse juiz frouxo. Vai ter que sobrar!!!
Vou abrir pra esquerda. Vou tentar puxar esse zagueiro comigo. Abrir pra alguém chegar de trás e tabelar comigo. Vai ter que dar!!! Ele ri mas sei que também está cansado. Uma hora ele vai falhar e eu vou aproveitar. Ele vai me dar espaço.
Balão do goleiro. Sempre que pulei, ele me ganhou no corpo ou o juiz deu falta minha. Vou fingir e dar meia volta. Isso!!! Ele perdeu o tempo de bola!!1 Eu vou alcançar!!! O zagueiro da cobertura não vai me alcançar!!! Tenho que chegar antes do goleiro!!! Vou tocar para o lado e rolar para o gol vazio antes de...
Algo me atingiu. Ouço o apito estridente e a vibração ensandecida da torcida. É pênalti!!! O juiz marcou pênalti!!! Alguém me acertou por trás. Vi que o juiz levantou um cartão amarelo e acho que foi para o lateral direito deles. Eu sabia que daria certo!!! Uma tinha que sobrar!!! O médico entra correndo no campo pra me atender enquanto o outro time cerca o juiz pra reclamar da marcação. É desespero deles ou acham que eu simulei??? Só sei que essa dor no meu tornozelo é real.
“Tudo bem, garoto?” - o doutor esbaforido me pergunta. Balanço a cabeça positivamente, olhando pra todos os cantos e procurando a bola. O nosso capitão já está com ela embaixo do braço. Lentamente, vou em direção dele pedindo a gorduchinha. “Ninguém vai me tirar esse gostinho, capitão!”
Enquanto me aproximo da marca da cal, o goleiro vem catimbar. Usa o sorriso irônico me perguntando se vou bater no mesmo canto que da última vez. Ignoro, mais preocupado com a dor do meu tornozelo. Ele aponta o canto direito e grita que vai pegar de novo. Aos poucos, o som da arquibancada vai diminuindo e a vibração pela marcação do pênalti vai dando lugar a apreensão. Se eu errar, estamos fora do campeonato. Se eu errar, não haverá mais tempo pra buscar o resultado. Se eu errar, a torcida não me perdoará, de novo. E entre todos esses anseios, tento ignorar todo o tumulto e os jogadores do outro time gritando que vou errar, que sou amarelão, que vou entregar.
Me abaixo e coloco a bola na marca dos 11 metros. Dou uma ajeitada carinhosa nela, como se cochichasse ao seu ouvido pedindo pra ela me obedecer e não me decepcionar, com a intimidade de quem cresceu e a amou deste o primeiro instante. Mesmo a pelota parecendo ter uma tonelada. Não olho pra trás, onde os outros jogadores se encontram esperando um possível rebote. Apenas olho para o vazio da minha mente. Bato no canto direito, onde ele está apontando? Solto toda a minha fúria com uma bomba no meio do gol? Só sei que o tempo não passa enquanto esse juiz não apita...
Olho para arquibancada. Atrás do gol, vejo a multidão de torcedores de mãos dadas, em posição de reza ou com os olhos cobertos. E antes mesmo de correr em direção à bola, me transporto mentalmente ao quintal de casa na minha infância quando meu cachorro era um goleiro feroz e impiedoso. Aos duelos intermináveis de toda tarde após a escola no campinho de chão batido com meus amigos. E a toda felicidade que sempre senti ao bater na bola, ao dar um drible e ao fazer um gol. Me transporto a todo esse amor que transformou minha vida e de quem me acompanhou até esse momento. Até esse minuto. Até esse campo. Até esse pênalti.
O juiz apita. Sinto o silêncio do estádio em minha alma. Mentalmente, digo “foda-se!!!” e imagino que o goleiro irônico é meu cachorro. Bato de chapa, um pouco em baixo da bola, colocada, dando uma curva sutil pra ela ganhar elevação e encontrar as redes. É no canto direito que você quer goleirão? Que seja!!! Nesse momento, eu controlo meu destino. Eu me preparei pra esse momento. Eu desejei esse momento. Eu nasci pra esse momento. E por mais milagres que você tenha feito hoje, você não vai alcançar essa!!! E vejo a bola, em sua graciosa viagem, escapar dos dedos do goleiro e encontrar as redes... Gooooooooollll!!! Os brados ensurdecedores da arquibancada ecoam infinitamente!!! Não sei pra onde correr!!! Apenas olho pra arquibancada, enquanto meus companheiros me abraçam, gritam e pulam sobre mim. É o nosso momento de glória!!! É a vitória de todos nós!!!


Cristian Ribas 

domingo, 16 de julho de 2017

As Regras (Poema)









Não vou lutar
pra mudar
as regras do jogo
por mais doloroso
que seja
o resultado.
Fazem parte
do aprendizado:
a voz
que se cala,
a mão
que te solta,
o corpo
que se afasta
e a luz
que se apaga.
Entre bençãos
e pecados,
adormeci
ao teu lado
e acordei
isolado,
amordaçado
pelos medos
que não domei.
E na necessidade
de coragem,
abandonei
a bagagem
e fiz a viagem
dentro de ti.
Por mais bela
que seja
tua paisagem,
ficarei
com a miragem
de partir
e te levar
somente
no meu olhar.

by Cristian Ribas

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Teias (Poema)










Não vou
te forçar
a nada,
mas vou 
te seduzir
até se entregar
e cair
em minhas teias.
Não precisa
de fronteiras
pra ser inteira
ou temer
para ser
verdadeira.
Te quero
por liberdade,
pela vontade
de te amar
antes da noite
acabar
e depois
do dia raiar.
Quero
te explorar
sem hora,
tempo
ou lugar.
Saborear
tua boca
enquanto
perde
tua roupa
e se encontra
com minha pele.
Pulsar em ti
e te fazer
sorrir
enquanto expulso
teus medos
e transformo
teu zelo
em puro desejo.
E quando
você se derramar,
saberá
que meu lugar
pra sempre será
em teu corpo.

by Cristian Ribas

O Sentido (Poema)










Não vou estar
em todos os lugares
em que gostaria
de viajar,
mas não preciso
ficar onde 
meu olhar
se entristeça.
Não vou provar
todas as iguarias
que me fazem
salivar
mas vou saborear
cada prato
que puder
me alimentar.
Não vou dormir
cada manhã
que meu corpo
sentir preguiça,
mas quando deitar
minha cabeça
estará tranquila.
Nem sempre
vou trabalhar
com aquilo 
que sonhei,
mas agradecerei
pela saúde
que me faz
seguir adiante.
Não vou amar
todos os amores
que desejei,
mas vou valorizar
cada instante
de entrega.
Não passarei
a eternidade
ao seu lado,
mas farei
de uma noite
um amor infinito.
Não vou conquistar
tudo o que
planejei,
mas posso 
compreender
e resignar
com as lições
que o destino
sempre nos dará.
E quando
tudo acabar,
não haverá
motivos 
para chorar.
Aqui ou em 
outro lugar
tudo fará
sentido.

by Cristian Ribas

Meus Pecados (Poema)









Não se apaixone
pelos meus pecados
por achar engraçado
o significado
do meu nome.
Não se cegue
pelo brilho
do meu olhar
que pode 
te levar
às sombras.
Não perca
a razão
quando meu
coração
pensar
que a paixão
tem tempo
pré-determinado.
Não esqueça
que meu mundo
é um labirinto profundo
de desejos profanos,
carinhos intensos
e segredos
que escrevo
em tua pele.
Lembre
que o amor
é leve
e me leve
em teus 
pensamentos.
E antes de sair,
vou te fazer sorrir,
pra você não fugir
dos meus sentimentos.

by Cristian Ribas

Adormecida (Poema)








Há algo errado.
No teu sorriso furtivo,
no olhar contemplativo
de palavras vagas.
Não encontro
teu brilho
na cena opaca
do teu 
pensamento 
perdido
vagando 
pela sala.
Vejo evidências
no vazio
das aparências
que escolheu
como destino.
Um abraço sem calor,
uma mão sem amor
que abandona
teu corpo
e congela
teu sonho.
Nas fotos
para a posteridade,
vende a felicidade
que nem você
acredita.
E o tempo passa,
cada vez mais
sem graça
na mulher
adormecida.
que naufraga
em tua alma.

by Cristian Ribas