quinta-feira, 19 de março de 2015

Um Velho na Janela (poema)





Me desculpe a demora.
Sei que se passaram horas,
dias, anos,
levantaram-se ondas,
perderam-se planos,
adormeceram-se sonhos
e, ao despertar,
ainda estava lá
todas as lembranças,
num altar de crenças
tatuadas em minha alma.
Por isso,
não esqueço das datas,
da lua e suas formas,
da música e suas notas,
e da porta
que fechei
ao te deixar partir.
E pra renascer,
fingi estar cego,
apalpando em cacos
que nunca quebrei.
Me entreguei
à sabedoria do tempo
que transforma o pensamento
em algo absoluto,
simples, puro,
como uma pintura
que só a gente conhece
e nos aquece,
nos toca,
percebe
o que ainda vive
e deixa seguir seu rumo.
Esse é o amor maduro,
por mais que nos sintamos
adolescentes.
enquanto as rugas incoerentes
contam nossa história.
Agora, sigo em frente
te deixando de presente
minha memória.
E o futuro?
Será um velho na janela,
admirando a primavera
de um quarto escuro
com todas as cores
que o mundo
refletiu,
com amor,
em seus olhos.

By Cristian Ribas

terça-feira, 17 de março de 2015

As Ruas (poema)



Me deixe
ganhar as ruas,
em busca da cura
de meu desencanto.
Me deixe
soltar o grito
que anda comprimido
em meu peito
ao testemunhar
tantos desmandos.
Deixe ecoar
o meu canto
sem poesia,
pra que um dia,
tudo seja diferente.
Me deixe
ser coerente,
mesmo tão descrente
em quem toma
as decisões.
Permita reconhecer na história
todas as nossas glórias
e as lições do fracasso.
Vamos renascer
no desabafo,
na humildade
pra reconhecer o erro
e na coragem
pra encarar os fatos.
Aceite que não tenho partido,
pois sou apenas um menino
que desafia gigantes
sem carregar ódio.
Pois nos meus olhos,
ainda brilha a paz
e desejo dignidade
pra deixar
aos meus filhos.
Minha ideologia
é a bondade.
E pouco importa
se é esquerda ou direita.
Todos somos brasileiros.
O que precisamos
é de união,
conciliação
e compreensão.
Pois se não houver entendimento,
não haverá tempo
pra reencontrar o caminho.

By Cristian Ribas


quinta-feira, 5 de março de 2015

A Chave (poema)



Quantas vezes
você teve que partir
sem se despedir?
Ter que seguir
com a voz presa,
a lágrima seca
e o coração partido?
Quantas vezes
ficou dividido
entre querer
e compreender
a vontade de alguém?
Quantas vezes
abriu a mão do seu sonho
para o outro
ser mais feliz?
Quantas vezes
teve que seguir sozinho
por um caminho
completamente
desconhecido?
Quantas vezes
você se perdeu no infinito
procurando um abrigo
na solidão?
Quantas vezes
o perdão
não te acompanhou
e isso te corroeu
por dentro?
Quantas vezes
se abraçou no sofrimento
em detrimento
da humildade,
deixando a vaidade
falar mais alto
e a felicidade
se despedaçar?
Quantas vezes
seu amor foi obsessão,
transformando em prisão
um sentimento
e roubando o brilho
de seu desejo?
Quantas vezes
você se viu no espelho,
caiu de joelhos
e não se reconheceu?
E quantas vezes
o tempo
apagou teus lamentos,
te tirou
o que mais ambicionava
e mostrou
ser a maior benção
que você precisava?
Tudo é questão
de compreensão.
Ontem,
hoje,
futuro,
a fé será sempre
tua luz no escuro
e a humildade
a chave
para todas as respostas.

By Cristian Ribas

A Sina (poema)



Estou sem palavras.
Vontades vagas
em noites claras
que me perco.
Mesmo assim,
escrevo.
Antes que o fim
se torne começo
e o retrocesso
esteja avançado.
É necessário
não ficar ilhado
num continente perdido.
Sou meu próprio inimigo
e teu abrigo.
Mesmo não querendo
ser mais um amigo.
Fico contigo
pois estou
em teu vestido,
no teu decote
e utensílios.
Estou impregnado
em teus fardos,
apontando atalhos
e cortando desvios.
Pareço arredio,
revolto,
sombrio,
mas sou somente
um garoto carente
querendo atenção
como castigo.
Um soneto inacabado
que deixa de lado
o padrão
e abre o coração
pra ser teu.
E na máscara caída,
uma melodia repetida
se torna seu hino.
De desejos mundanos
e virtude divina.
E se você
não compreende
esse meu jeito indecente,
sou inocente
da minha sina.
Pois o amor não termina,
apenas sinaliza
que a vida é simples.
A gente é que complica.

By Cristian Ribas




terça-feira, 3 de março de 2015

A Trilha (poema)





Deixo os segredos
escaparem
entre os dedos
e o zelo
abrir o peito
num jogo
de mistério.
Não que eu
seja sério,
enigmático
ou profético.
Quero ser seu
remédio.
Um prêmio
para o sentido
do teu caminho.
Serei um louco
te descobrindo
aos poucos
e te devolvendo
a paz
que você me traz.
Na frase certa,
na porta aberta,
na trilha
que me leva
aos teus sonhos.
Na verdade,
já estive aí
e deixei rastros
pra você me seguir.
E tirar teu receio,
te encontrar pelo meio
e te acompanhar
até o final.
Bem ou mal,
tudo o que passou,
nos moldou,
nos fortaleceu,
nos lapidou
e nos tornou
esse milagre.
Pode parecer tarde,
mas o tempo
é uma fraude
que o coração
eterniza.
Então,
sinta a brisa
e pegue a minha mão.
Não sei o que acontecerá.
Só sei que será
verdadeiro.

By Cristian Ribas