quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Transbordar (Novo Livro de Poesia)


Boa tarde, amigos.

Esse é o meu mais novo livro de poesias: "Transbordar". Esta é minha sexta obra, a quinta sobre poesias. Espero que gostem!

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A Música Perdida (Crônica)


Caminhando pela sala, entre afazeres pendentes e sentimentos presentes, uma melodia doce e antiga despertou da minha alma e pairou repetidamente na minha cabeça, sendo balbuciada pelos meus lábios. Enquanto o relógio perdia a hora, eu voltava no tempo repentinamente. Voltei a ser um mero adolescente, de olhos luminosos e coração puro, que achava que o futuro seria mais simples em suas lições.
Ao me deparar com a melodia na cabeça, lembrei imediatamente da cena: meu primo, dois anos mais velho, ao receber minha visita, estava ouvindo uma fita cassete que havia recebido de um amigo. Naquele momento, eu ainda não tinha sido capturado pela energia e questionamentos do rock, vagando sem ter um paradeiro certo nos ritmos que embalariam minha trilha sonora. Questionei e meu primo contou que seu amigo era fã de um velho roqueiro canadense. Escutei aquela mistura de violões, gaita de boca e violino tão melodicamente sincronizados. Me senti viajante na voz aguda de Neil Young.
Enquanto eu mergulhava nas profundezas do rock, meu olhar se perdia nas rotações da fita Basf cromo de 60 minutos, fechando os olhos e balançando instintivamente a cabeça, me levando sem questionamentos no embalo das canções. De repente, uma música em especial fascinou meus sentidos. Obrigatoriamente, apertei no pause e voltei a fita, manuseando os botões e procurando o início da música. Fui hipnotizado. No final, pause, volta a fita e toco de novo. Uma, duas, três, infinitas vezes. Do início da tarde até chegar a noite. Me encontrei numa canção. Uma poesia lírica que embalava meus delírios juvenis.
Um tempinho passou, consegui um violão emprestado e aprendi sozinho a tocar o instrumento. Um sonho de infância que era barrado nos traumas de minha mãe que preferia me dar relógios pra evitar que eu fosse músico como meu pai. Na solidão de meu quarto e na criatividade dos meus questionamentos de adolescente, uma de minhas primeiras composições foi instintivamente uma versão daquela canção de Neil Young que eu não sabia o nome.
Hoje, numa tarde em que o universo parecia arredio e este velho coração batia sob intempéries, a canção perdida voltou pra apaziguar meu coração. Abri o youtube e vasculhei as canções de Neil Young. Quando parecia tudo perdido e a desistência se aprochegava sem reverência, a música me encontrou. Ouvi aquele solo de violino e, entre um sorriso largo pela conquista, uma lágrima escapou sem permissão. É “Comes a Time” o nome dela. E a escutei até anoitecer sem precisar apertar o pause no meu celular. Apenas dancei na solidão de meu coração adolescente.

Cristian Ribas

domingo, 18 de novembro de 2018

A Primeira Palavra (Crônica)





               Confesso que ando muito desleixado com a escrita. As idéias passeiam pela minha cabeça, deixam sementes no coração, mas meus dedos operários estão em protesto sindical. Sempre encontram alguma distração, outro assunto de relevância ímpar, e todos os conceitos e teorias que me obsediam, acabam se perdendo.
               A minha concentração não anda das melhores. Seja pelo meu notebook sexagenário que, sempre que começo um texto, superaquece e desliga sozinho. O Grafite mordiscando o meu braço e me arranhando  pedindo carinho. Alguma notificação no meu celular que puxam meus olhos curiosos. Alguma piada sem graça que só eu consigo rir. Ou uma declaração de amor para minha namorada que não pode esperar o tempo passar. Sempre algum tipo de contratempo. Seja no trabalho e suas urgências, a barriga roncando ou as notícias do mundo e dos familiares. Neste exato momento, por exemplo, ouço um som reclamatório vindo  do estômago e o relógio passando desapercebido pelo meio dia.  E nessa brecha temporal, minha mente viajante começa a captar várias freqüências de assuntos, desejos e sentidos variados. E... onde eu estava mesmo?
               Ah... lembrei! Na minha procrastinação e falta de atenção. Como alguém que tem a fórmula da paz mundial e, do nada, repara que um clip metálico aberto parece um cockpit de Fórmula 1. E já lembra que se completaram 30 anos do primeiro título mundial de Ayrton Senna, 35 anos do bicampeonato de Nelson Piquet e que, também em 1983, o Grêmio foi campeão do mundo e eu dormi com dez minutos de jogo, só sabendo do resultado da partida quando fui numa fruteira e visualizei a capa do jornal Zero Hora com o título de capa: "A Terra é Azul".
               Aliás, como um bom dinossauro entre robôs, demoro um pouco pra tentar me adequar e utilizar as novas tecnologias. Como tenho uma característica extremamente saudável de falar sozinho, baixei um aplicativo que transforma a voz em texto. Pensei comigo que meu déficit de atenção e preguiça estariam resolvidos. Mas, após o segundo teste, quando percebi que, às vezes, o app entendia "filosofia" como "fiz a Sofia", "poesia" como "pó e azia" e "caramelo" como "carro belo", acabei abolindo esta possibilidade.
               Após um chamado de um colega, meu monitor com mau contato ter ficado rosa, algumas olhadas no celular, um gole de café frio, dois espirros e um ataque pela flanco guarda das minhas lombrigas, acho melhor parar por aqui esse texto. Mesmo com o gato da minha xícara me encarando, com os rabiscos da geografia explicada de Porto Alegre e o olhar que procura saber como está o clima lá fora. Aos poucos, vou vencendo a procrastinação. Afinal, como escreveu Lao-Tsé, "uma longa caminhada começa com o primeiro passo". Ou um texto sempre começa com a primeira palavra.

Cristian Ribas   

Eu Tenho Medo (Crônica)






               Sinto um aperto no peito. Minhas mãos suam. Olho para elas e percebo um leve tremor.  Fico ansioso, agitado, desconfortável. Não consigo permanecer quieto, focado, centrado, e pensamentos angustiantes se repetem em looping na minha cabeça. Não há como negar: estou com medo.
               Confesso que essa sensação de descontrole é desagradável. Me tenciona, incomoda e limita. Como se eu deixasse de ser protagonista da vida, atuando em meus próprios atos, e me tornando um mero espectador, alguém que só pode contar com a sorte ou o bom senso alheio pra que algo ruim não ocorra. Como alguém que joga as fichas nas cartas que estão em outras mãos. Fico em silêncio, mergulhado na minha ansiedade, contando grãos de areia que descem em câmera lenta por uma velha ampulheta. Mas, afinal de contas, por que tenho medo?
                Creio que, o ponto de partida, é ter-se a humildade pra reconhecer o medo. De alguma forma, esse sentimento em nossa sociedade é subjugado, incompreendido, diminuído. É tratado como defeito de perfil e desvio de caráter. Mas, medo não deve ser confundido com covardia. É um sentimento instintivo. É o nosso lado "bicho" agindo com o ambiente ou situação que nos desafia. E o que nos causa medo?
               Olhando para o espelho, num breve momento de sobriedade e clareza, meu olhar sereno encara minhas limitações. E percebo, de forma simplista, que só se pode temer duas coisas: o conhecido e o desconhecido (risos). Muita "hora nessa calma". Não devemos se afligir com tudo.
               O medo do "desconhecido", de algum modo, se denota ignorância de nossa parte. Mostra alienação, crendice e, às vezes, soberba, por não querer se aprofundar no fato e se prender aos seus dogmas. Então, humildade e esclarecimento sempre serão um ótimo caminho a ser seguido.
               Sobre o temor "daquilo que conhecemos", há inúmeras razões que nos norteiam. Mas, quando se fala de sentimentos, não há dúvidas que nossas vivências, em algum instante, tornou-se trauma. Uma ferida aberta na alma que, com o passar dos anos, não conseguiu cicatrizar. E nós, como "bichos" que ainda somos, acabamos nos prendendo a situações que nos machucaram e magoamos quem não tem nenhuma culpa pela dor que nós sentimos e não conseguimos superar.
               E como vencer o medo? Se amando, perdoando os outros e a si mesmo, compreendendo as lições de cada situação e evoluindo. É um processo doloroso, demorado, que exige muita coragem em reconhecer as próprias fragilidades. Olhar no espelho e encarar a nossa imagem mais sombria e despertar a luz nela. Desenvolver a empatia e ampliar nosso entendimento de ações, atitudes e sentimentos. E sendo gratos por quem nos tornamos e por quem cruzou nosso caminho.
               Confesso: tive medo em não conseguir completar esse texto. Mas, com uma palavrinha aqui, outra ali, ele foi se encaixando. Desejo que, quem chegou até aqui, colha bons fluídos. E não tema em seguir evoluindo.

Cristian Ribas