sexta-feira, 22 de agosto de 2014

O Mergulho no Reverso


   Bom, como a escrita anda fluindo entre meus dedos e as idéias passeando entre a lucidez e a fantasia, vou reativando o hábito diário de escrever. Reencontro no espaço vazio um velho amigo que andava displicente, evasivo, descansando em meus atos, e devido ao meu cansaço, ficava quietinho, moribundo, assistindo a tudo, mas sempre com aquele sorriso confiante que, no momento que eu precisasse, eu contaria com ele. Observava com um orgulho contido o que me tornei, o que estava construindo e como me desenvolvi. Por mais que essa insanidade coletiva me rondasse, esse amigo me encontrava em pensamentos, teorias, ficções, melodias estridentes e desafinos adocicados. Choques calorosos e o frio lancinante. E no desenho mais colorido, sigo encontrando o melhor de mim no branco do papel.
   Ultimamente, tenho gostado do mergulho no reverso. De relembrar histórias, pessoas, cenas, sentir instantes, ouvir histórias que eu mesmo vivi e exagero. De ser grato por todos aqueles que cruzaram meu caminho e por tudo o que já me aconteceu. E perceber nesta ironia, que sou um homem de muita sorte e o quanto a vida já me proporcionou de bom. Mesmo naquela surra que levei na rua aos sete anos de idade e compreendi que com a raiva e a agressão eu não ganharia nada e teria que mudar minha postura. Mesmo tendo que conviver com meu ex-padrasto, entendi que não precisava ter o mesmo sangue pra amar ou respeitar uma criança. Ou tantas filas de emprego que enfrentei na minha adolescência na fatídica década de 90 sem nunca ser "escolhido", sem ter oportunidade de trabalhar, mas entender que não adianta lamentar ou se esconder da vida. Que entrei mais tarde na escola graças à minha avó, que inventou um jogo de cartas pra me ensinar a escrever e me fez dar mais valor à palavra. E que foi dela que herdei o dom pela escrita. E foi de meu pai que herdei o gosto pela música. E que foi de meu avô que herdei o eterno bom humor, quando ele cantava pra mim "Kiko pinico, galinha sem bico" ou perguntava se eu iria ser ginecologista quando crescesse. E que foi de minha mãe que herdei o dom de que não custa ajudar as pessoas. E que foi com minha tia Helaine que aprendi a compreender como a "Justiça Divina" trabalha e como ela é sábia. E aprendi tanto com meus primos, meus amigos, os mestres que encontrei pelo caminho, e com as pessoas que me magoaram (pela minha ignorância de não saber compreendê-las).
   Eu ia escrever sobre algo bem diferente, mas deixei meu pensamento em alfa e as palavras brotarem intensas, mas sem pretensão. Talvez essa fosse a intensão. Tão somente agradecer. Tudo o que passou. O que ainda virá. E o que ainda terei de melhorar pra ser merecedor do que desejo. Mas, mesmo que nada venha, terei sempre esse meu velho amigo. Corrigindo os meus passos. Medindo meus delírios. E refletindo simplesmente o que sou. O meu amigo, a imaginação.  

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