segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

2018 - 2019


Astros Perdidos (Poema)



Ainda tenho esperança.
Mesmo com a mancha
em meu quadro,
com a ignorância
em meu fardo
e os astros
se perdendo
no espaço.
Mesmo
com experiências inglórias,
equívocos na história
e as sombras
que sopraram
em nossos moinhos.
Tenho esperança
porque sou adulto
que não esqueceu
de brincar,
apesar de tropeçar
nos metais
de falso valor.
Porque te amo
mesmo que você
não queira
e te admire
pela fresta da cegueira
que a saudade
ignorou.
Ainda acredito
porque sinto
o que há de melhor
e perdôo
por saber
o quanto já errei.
Tenho esperança
mesmo perdendo
o trem de teus lábios,
caindo dos trilhos
e fugindo em atalhos
que jamais
te encontrarão.
E sem a intenção
de modificar o destino,
seguirei sendo menino
em que o brilho
sempre estará
no amor
do teu caminho.

Cristian Ribas

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Colonização (Poema)



Não vou
fugir do assunto
pra idealizar
um novo mundo
que seja perfeito.
Não vou
te impor
minhas verdades
pela vaidade
de achar
que estou certo.
Não quero
te derrotar
numa discussão
pra ter
a pobre sensação
de superioridade.
Não pretendo
revelar teus defeitos
pra encontrar consolo
na minha mediocridade.
Só quero
a paz de teu abraço
pra apagar
todo o cansaço
desses dias tensos.
Quero o teu beijo
de origem despretensiosa
me dando provas
que nada está perdido.
Quero adormecer
no teu gemido,
no arrepio da tua pele
e no teu porto sorriso.
E perceber
no teu prazer
que não temos
mais tempo a perder
na colonização
do outro.

Cristian Ribas

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Não Gosto de Natal (Poema)




Não venha me questionar
que devo comemorar
o que pra mim
não faz sentido.
Não há motivação
em fingir alegria
quando há hipocrisia
em seus mitos.
A felicidade
não é medida
pelo calendário,
luzes piscantes
ou por pratos decorados
pelo inverno
que não nos pertence
ou por presentes
de obrigação.
Prefiro ficar
com minha solidão
do que cantar
uma canção
que não há razão
em sua melodia.
Ou me vestir
de vermelho
sem encarar
no espelho
as minhas antipatias.
Não quero
estar certo
ou errado,
ou te jogar um fardo
da história
de meus dias.
Apenas
não gosto de natal
e isso é mais natural
do que seu ritual
desconfia.

Cristian Ribas



domingo, 23 de dezembro de 2018

Intangível (Poema)




Você me deixou
a poeira sobre os olhos,
o peso sobre os ombros
e o cansaço
entre os espaços
que se fecharam
em teus escombros.
Aprendi
a respeitar teus monstros,
a admirar teus santos
e a ignorar
que teu passado
me deixou ilhado
em algum canto.
Reconheci
tua nobreza
na sutileza dos gestos,
no coração dileto
e nos feitos
que te moldaram
tão bela.
Vi tua luz de primavera
brilhar em minha tela
e o medo te consumir
como fera
que ignora
a razão.
E após
os dias de imensidão
e noites de trovão,
mantenho
meu coração
intangível
nos percalços
da cegueira.
Pois a beleza da vida
está na sabedoria do tempo
e no seu jeito
de consertar
as injustiças.

Cristian Ribas

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Caminhos (Poema)



Não vou falar.
Melhor te admirar
enquanto o tempo
passa devagar
pela eternidade
de teus olhos.
Quero desfrutar
da tua companhia,
da tua alma solta
numa tarde vadia
que anoitece
em teus lábios.
Quero quebrar
as distâncias,
cruzar as fronteiras
e pintar minha bandeira
com tuas cores.
Inventar um motivo
sem nexo,
solucionar teoremas complexos
pra te ter por perto
enquanto o deserto
é semeado
pelo vento.
Quero ser
teu prazer de momento
que mergulha
no bom senso
e se torna indefeso
ao adormecer contigo.
E ao despertar
no lar do teu peito,
te darei o desejo
de me admirar
sorrindo
no silêncio
de nossos caminhos.

Cristian Ribas



sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Perseguindo o Ontem (Poesia)



Não me sacrifique
pelos traumas
do teu passado
se quem estava
ao seu lado
não soube
te cuidar.
Não me verá
perseguindo o ontem
pra cobrir a fonte
de nossas desculpas
pra infelicidade.
Eu sou 
o molde dos enganos
e o resultado dos planos
que perderam a validade.
Sou o hoje lapidado,
sou a resistência
às experiências
que me machucaram
mas não roubaram
meu sorriso.
Então, 
não tenha medo
do que aconteceu.
Pois se digo
que meu amor
é teu,
é porque
quero construir
um novo céu
contigo.

Cristian Ribas

OBS: Escrita ao som de "While The Song Remains the Same", de Noel Gallagher's High Flying Birds, que cita o título do segundo álbum da banda, "Chasing Yesterday". Captado? ✌😜

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Coração de Ouro (Poema)



Não se assuste
com o frio
que meu lado sombrio
pode provocar.
Deixe
me encaixar
em teu vazio
com meu jeito vadio
de te amar
sem pressa.
Vou te abraçar
sob a nuvem espessa
e quando você
perder a cabeça 
encontrará
seu lar
em meu olhar.
Sou só um tolo
de olhar mouro
e um coração de ouro
que voltou
a se quebrar.
E quando
a luz se apagar
serei teu abrigo,
pois comigo
estará
tua paz.

Cristian Ribas

Obs.: Escrito ao som de "Heart of Gold", de Neil Young.

domingo, 9 de dezembro de 2018

A Semente da Lua (poema)




Quem diria
que a lua viria
alegrar meu dia
com sua luz.
Entre nuvens gigantes,
sonhos distantes
e vozes ausentes,
ainda existe na gente
o que nossa semente
aflorou.
Por mais estranho
que possa ter sido
o nosso caminho,
arando terras, 
quebrando vidros,
carregando pedras
e saboreando vinhos,
o que fica nítido
é que o nosso melhor
permaneceu.
E entre lágrimas e saudade,
se eternizou a vontade
de ver a felicidade
do outro.
Toda vez que sorrir
estarei aí
como um amuleto
de tua lembrança.
E quando tudo se for
saberá que o amor
te fará
superar
qualquer batalha.

Cristian Ribas

sábado, 8 de dezembro de 2018

Admissão (poema)



Te busco
em meu abraço
no vácuo
da saudade
e nas frases
que juntam os cacos
da realidade.
É duro admitir
que tenho que seguir
sem te proteger
do fantasma
de teus medos.
Sinto o peso
nos teus ombros,
reconheço
a face de teus monstros
mas não consigo
abrir teus olhos.
Nessa luta inglória,
acredito na tua força
e na herança
de teu sangue e legado.
E como soldado,
regresso calado,
respeitando tua liberdade
e acreditando
que é capaz
de vencer
teu passado.

Cristian Ribas

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O Karma de Escrever (Crônica)





               Confesso que ando aéreo, desfocado, meio desligado, com a cabeça vagando entre idéias mas sem mergulhar em algum assunto. Ando raso, precavido, sem a audácia do aprofundamento ou o brilho do encantamento. Tão somente um espectador passageiro de um mundo que já não tem a mesma alegria.
               Fico pensando sobre meu último livro de poesias: Transbordar. Recém lançado, carregado de amor, entrega, homenagem e devoção. E percebo que, lidar com a arte, com a criação, carrega um grande karma perante alguns olhares de admiração e milhares de questionamento. Vejo que algumas pessoas não lêem o livro pelo prazer da poesia e da auto-reflexão. Mas, como uma busca inquisitória de cada palavra para depreciar os sentimentos de quem a escreve. E isso me entristece.
               Aliás, as críticas pessoais que recebi sobre o livro servem como uma analogia sobre a vida. Quem realmente está preparado para ser feliz? Quem está disposto a construir a felicidade? Quem é capaz de controlar e superar os instintos negativos e valorizar o belo, o bom, o que te engrandece?
               Nosso cérebro, de algum modo, está programado pelo ego a não aceitar o contraditório. Tudo o que é diferente, tudo o que nos ofende e nos agride, fica se repetindo, em "looping", em nossa cabeça, alimentando um sentimento de não aceitação e hostilidade. E, desta forma, nossa vaidade ignora todas as coisas belas e boas que nos aconteceu, pra supervalorizar aquilo que desafia e questiona nossa "perfeição".
               Não é de hoje que enfrento isso com os meus escritos. Muitas vezes meu caráter, sentimentos e personalidade foram julgados por alguns poemas, porque a pessoa não entendeu ou por achar que a motivação das palavras era diferente daquilo que a pessoa desejava. E a partir que quem escreve não tem a confiança de quem está ao seu lado, que possui algum tipo de bloqueio ou censura na sua escrita, ele perde a principal qualidade de qualquer obra de criação: a liberdade. Sem a liberdade, se perde o prazer. Sem o prazer, se perde a motivação. sem a motivação, não há porque escrever. Isso me ocasionou um período de cinco anos sem nenhum texto ou poema. Por isso, a diferença de meu segundo livro ser de 2009 e o terceiro somente em 2016.
               Então, sinto a tristeza de ver que, algo que fiz com tanto carinho e beleza, possa machucar ou ofender alguém. Mas, sou consciente de que não sou capaz de derrotar os monstros que existem na alma de outra pessoa. Só a mesma pode aceitar e encarar isso. E enquanto isso não ocorre, tento redescobrir o prazer de escrever, desejando que ninguém use essas palavras contra mim e que todos sejam capazes de construir a felicidade em detrimento de sua vaidade.

Cristian Ribas

domingo, 2 de dezembro de 2018

A Grandiosidade das Pequenas Coisas (Crônica)




               Alan Alexander Milne já era um reconhecido escritor e dramaturgo na década de 1920. Havia trocado a movimentada capital Londres por uma casa de campo em Sussex, 50 quilômetros ao sul de Londres, juntamente com sua esposa, filho e babá. Procurava inspiração, tranqüilidade, paz. O retorno das palavras, tão abundantes, que, de algum modo, o haviam abandonado.
               Milne tinha um objetivo em mente. Atormentado por todos os fantasmas da Primeira Guerra Mundial, queria escrever uma grande obra pacifista. Mostrar aos britânicos o quão nociva são as batalhas e seus traumas. Pensava que tinha essa obrigação. Carregava esse peso em seus ombros e se considerava capaz de conscientizar a sua nação para evitar novos confrontos. E nessa busca incessante, se tornara um vulto vagando pela casa, distante de sentimentos e sem encontrar suas respostas.
               Certo dia, sua esposa, Daphne, cansada do mau humor e isolamento do marido, resolveu passar uns dias em Londres e disse que só voltaria quando ele escrevesse algo. Logo em seguida, a mãe da babá ficou doente. Milne ficou, pela primeira vez, só com seu filho de seis anos, Christopher Robin. O escritor teve que abandonar sua solidão e, sem o menor jeito, cuidar do menino. Nos passeios pela floresta de Ashdown, percebeu o pequeno universo de brincadeiras que seu filho vivenciava com seus bichos de pelúcia: um urso, um burro, um leitão, um tigre, e mais tarde, um canguru e seu filhote. A cada nova aventura que seu filho imaginava, aumentava seu encanto. Convidou seu amigo  ilustrador Ernest H. Shepard para presenciar seu filho brincando no bosque com seus bichos de pelúcia. E assim nascia, despretensiosamente, a considerada melhor história infantil de todos os tempos.
               A.A. Milne, preso a seus traumas de guerra, demorou a entender que, assim como ele, todo o Reino Unido sofreu atônita com as batalhas e suas mortes. De modo simples, havia esquecido a felicidade das pequenas coisas. E o menino Christopher Robin com toda a turma do Ursinho Pooh (Winnie the Pooh) e seus amigos, trouxe essa pureza e alegria de volta a todos os seus leitores.
               Confesso que nunca fui fã do Ursinho Pooh. Sempre achei o Tigrão muito louco e o burrinho muito depressivo. Mas, ao conhecer a história de sua criação, fiquei encantado pela sua singeleza e significado. Eu sei que a fama e o sucesso subiram à cabeça de A.A. Milne, que houve uma exposição excessiva de seu filho Christopher Robin que lhe trouxeram muitos traumas, afastando pai e filho, e que a Segunda Guerra Mundial veio uma década após. Mas, me apego aos momentos de felicidade no "Bosque dos Cem Acres". Ao instante em que o menino trouxe seu pai para seu universo e lhe ensinou a brincar. E, principalmente, que a paz, só tocou sua alma, quando encontrou, no sorriso de seu filho, a grandiosidade das pequenas coisas.

Cristian Ribas

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Transbordar (Novo Livro de Poesia)


Boa tarde, amigos.

Esse é o meu mais novo livro de poesias: "Transbordar". Esta é minha sexta obra, a quinta sobre poesias. Espero que gostem!

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

A Música Perdida (Crônica)


Caminhando pela sala, entre afazeres pendentes e sentimentos presentes, uma melodia doce e antiga despertou da minha alma e pairou repetidamente na minha cabeça, sendo balbuciada pelos meus lábios. Enquanto o relógio perdia a hora, eu voltava no tempo repentinamente. Voltei a ser um mero adolescente, de olhos luminosos e coração puro, que achava que o futuro seria mais simples em suas lições.
Ao me deparar com a melodia na cabeça, lembrei imediatamente da cena: meu primo, dois anos mais velho, ao receber minha visita, estava ouvindo uma fita cassete que havia recebido de um amigo. Naquele momento, eu ainda não tinha sido capturado pela energia e questionamentos do rock, vagando sem ter um paradeiro certo nos ritmos que embalariam minha trilha sonora. Questionei e meu primo contou que seu amigo era fã de um velho roqueiro canadense. Escutei aquela mistura de violões, gaita de boca e violino tão melodicamente sincronizados. Me senti viajante na voz aguda de Neil Young.
Enquanto eu mergulhava nas profundezas do rock, meu olhar se perdia nas rotações da fita Basf cromo de 60 minutos, fechando os olhos e balançando instintivamente a cabeça, me levando sem questionamentos no embalo das canções. De repente, uma música em especial fascinou meus sentidos. Obrigatoriamente, apertei no pause e voltei a fita, manuseando os botões e procurando o início da música. Fui hipnotizado. No final, pause, volta a fita e toco de novo. Uma, duas, três, infinitas vezes. Do início da tarde até chegar a noite. Me encontrei numa canção. Uma poesia lírica que embalava meus delírios juvenis.
Um tempinho passou, consegui um violão emprestado e aprendi sozinho a tocar o instrumento. Um sonho de infância que era barrado nos traumas de minha mãe que preferia me dar relógios pra evitar que eu fosse músico como meu pai. Na solidão de meu quarto e na criatividade dos meus questionamentos de adolescente, uma de minhas primeiras composições foi instintivamente uma versão daquela canção de Neil Young que eu não sabia o nome.
Hoje, numa tarde em que o universo parecia arredio e este velho coração batia sob intempéries, a canção perdida voltou pra apaziguar meu coração. Abri o youtube e vasculhei as canções de Neil Young. Quando parecia tudo perdido e a desistência se aprochegava sem reverência, a música me encontrou. Ouvi aquele solo de violino e, entre um sorriso largo pela conquista, uma lágrima escapou sem permissão. É “Comes a Time” o nome dela. E a escutei até anoitecer sem precisar apertar o pause no meu celular. Apenas dancei na solidão de meu coração adolescente.

Cristian Ribas

domingo, 18 de novembro de 2018

A Primeira Palavra (Crônica)





               Confesso que ando muito desleixado com a escrita. As idéias passeiam pela minha cabeça, deixam sementes no coração, mas meus dedos operários estão em protesto sindical. Sempre encontram alguma distração, outro assunto de relevância ímpar, e todos os conceitos e teorias que me obsediam, acabam se perdendo.
               A minha concentração não anda das melhores. Seja pelo meu notebook sexagenário que, sempre que começo um texto, superaquece e desliga sozinho. O Grafite mordiscando o meu braço e me arranhando  pedindo carinho. Alguma notificação no meu celular que puxam meus olhos curiosos. Alguma piada sem graça que só eu consigo rir. Ou uma declaração de amor para minha namorada que não pode esperar o tempo passar. Sempre algum tipo de contratempo. Seja no trabalho e suas urgências, a barriga roncando ou as notícias do mundo e dos familiares. Neste exato momento, por exemplo, ouço um som reclamatório vindo  do estômago e o relógio passando desapercebido pelo meio dia.  E nessa brecha temporal, minha mente viajante começa a captar várias freqüências de assuntos, desejos e sentidos variados. E... onde eu estava mesmo?
               Ah... lembrei! Na minha procrastinação e falta de atenção. Como alguém que tem a fórmula da paz mundial e, do nada, repara que um clip metálico aberto parece um cockpit de Fórmula 1. E já lembra que se completaram 30 anos do primeiro título mundial de Ayrton Senna, 35 anos do bicampeonato de Nelson Piquet e que, também em 1983, o Grêmio foi campeão do mundo e eu dormi com dez minutos de jogo, só sabendo do resultado da partida quando fui numa fruteira e visualizei a capa do jornal Zero Hora com o título de capa: "A Terra é Azul".
               Aliás, como um bom dinossauro entre robôs, demoro um pouco pra tentar me adequar e utilizar as novas tecnologias. Como tenho uma característica extremamente saudável de falar sozinho, baixei um aplicativo que transforma a voz em texto. Pensei comigo que meu déficit de atenção e preguiça estariam resolvidos. Mas, após o segundo teste, quando percebi que, às vezes, o app entendia "filosofia" como "fiz a Sofia", "poesia" como "pó e azia" e "caramelo" como "carro belo", acabei abolindo esta possibilidade.
               Após um chamado de um colega, meu monitor com mau contato ter ficado rosa, algumas olhadas no celular, um gole de café frio, dois espirros e um ataque pela flanco guarda das minhas lombrigas, acho melhor parar por aqui esse texto. Mesmo com o gato da minha xícara me encarando, com os rabiscos da geografia explicada de Porto Alegre e o olhar que procura saber como está o clima lá fora. Aos poucos, vou vencendo a procrastinação. Afinal, como escreveu Lao-Tsé, "uma longa caminhada começa com o primeiro passo". Ou um texto sempre começa com a primeira palavra.

Cristian Ribas   

Eu Tenho Medo (Crônica)






               Sinto um aperto no peito. Minhas mãos suam. Olho para elas e percebo um leve tremor.  Fico ansioso, agitado, desconfortável. Não consigo permanecer quieto, focado, centrado, e pensamentos angustiantes se repetem em looping na minha cabeça. Não há como negar: estou com medo.
               Confesso que essa sensação de descontrole é desagradável. Me tenciona, incomoda e limita. Como se eu deixasse de ser protagonista da vida, atuando em meus próprios atos, e me tornando um mero espectador, alguém que só pode contar com a sorte ou o bom senso alheio pra que algo ruim não ocorra. Como alguém que joga as fichas nas cartas que estão em outras mãos. Fico em silêncio, mergulhado na minha ansiedade, contando grãos de areia que descem em câmera lenta por uma velha ampulheta. Mas, afinal de contas, por que tenho medo?
                Creio que, o ponto de partida, é ter-se a humildade pra reconhecer o medo. De alguma forma, esse sentimento em nossa sociedade é subjugado, incompreendido, diminuído. É tratado como defeito de perfil e desvio de caráter. Mas, medo não deve ser confundido com covardia. É um sentimento instintivo. É o nosso lado "bicho" agindo com o ambiente ou situação que nos desafia. E o que nos causa medo?
               Olhando para o espelho, num breve momento de sobriedade e clareza, meu olhar sereno encara minhas limitações. E percebo, de forma simplista, que só se pode temer duas coisas: o conhecido e o desconhecido (risos). Muita "hora nessa calma". Não devemos se afligir com tudo.
               O medo do "desconhecido", de algum modo, se denota ignorância de nossa parte. Mostra alienação, crendice e, às vezes, soberba, por não querer se aprofundar no fato e se prender aos seus dogmas. Então, humildade e esclarecimento sempre serão um ótimo caminho a ser seguido.
               Sobre o temor "daquilo que conhecemos", há inúmeras razões que nos norteiam. Mas, quando se fala de sentimentos, não há dúvidas que nossas vivências, em algum instante, tornou-se trauma. Uma ferida aberta na alma que, com o passar dos anos, não conseguiu cicatrizar. E nós, como "bichos" que ainda somos, acabamos nos prendendo a situações que nos machucaram e magoamos quem não tem nenhuma culpa pela dor que nós sentimos e não conseguimos superar.
               E como vencer o medo? Se amando, perdoando os outros e a si mesmo, compreendendo as lições de cada situação e evoluindo. É um processo doloroso, demorado, que exige muita coragem em reconhecer as próprias fragilidades. Olhar no espelho e encarar a nossa imagem mais sombria e despertar a luz nela. Desenvolver a empatia e ampliar nosso entendimento de ações, atitudes e sentimentos. E sendo gratos por quem nos tornamos e por quem cruzou nosso caminho.
               Confesso: tive medo em não conseguir completar esse texto. Mas, com uma palavrinha aqui, outra ali, ele foi se encaixando. Desejo que, quem chegou até aqui, colha bons fluídos. E não tema em seguir evoluindo.

Cristian Ribas

sábado, 11 de agosto de 2018

Liberdade (poema)



Não vou
te forçar
a me amar
contra a vontade.
O amor
é liberdade.
É respeitar
escolhas
e perdoar
os erros.
É ter o zelo
quando se deseja
o abraço
e o espaço
quando se procura
a solidão.
É deixar
o coração aberto
quando você
está por perto
e saber
que o sentimento
é o certo
mesmo
no teu silêncio.
Amar
é jamais te impedir
de partir,
e não te pedir
pra ficar.
É jamais
te calar,
ou te impedir
de falar
com quem
te faz bem.
Amar
é admirar
teu vôo
mesmo que eu
fique no solo.
É dar colo
à tua alma livre
e abandono
quando a lição
não está
em minhas mãos.
Amar
é afinidade,
leveza,
bondade,
querer
a tua felicidade
mesmo que a saudade
não me agrade
e eu ainda sangre.
Você não é
minha posse
ou mero objeto
que só serve
quando faz
o que espero.
O amor
é evolução,
é dar as mãos
sem se tocar
e se soltar
sabendo
que se está
no outro.
E quando acabar,
deixar o melhor
e levar a gratidão
que nenhuma obsessão
é capaz de sentir.

Cristian Ribas






quinta-feira, 19 de julho de 2018

Um Pouco de Si (Poema)





Eu sei
que soa
estranho
num mundo
cheio de enganos
sorrir
como se tudo
desse certo.
Mesmo
que você
não esteja
perto,
que pareço
caminhar
no deserto,
que o futuro
seja incerto
e que nunca
eu vá
te encontrar.
Acho que e
pela luz
do teu olhar,
pelo encanto
da tua voz
ou pelo
seu jeito
de me inspirar.
E por um
momento,
mesmo em
qualquer
tormento,
me sinto feliz
ao melhorar
o que está
em mim
e refletir
um pouco
de si.

Cristian Ribas

quinta-feira, 12 de julho de 2018

Incertezas (Poema)






Desenho
um sorriso
no vidro embaçado,
nas gotas de chuva
que escondem
um olhar
solitário.
Não chore
por aquilo
que está
quebrado,
um castelo
de areia
desabado
e que não há como
reconstruir.
É difícil
ver a beleza
num mar
de incertezas,
manter a crença
quando nada
faz sentido.
Mas acredite
na sabedoria
do destino
e em tudo aquilo
que ainda temos
que aprender.
E mesmo que tudo
pareça tempestade,
a verdade
é que o horizonte
mais belo
está guardado
em você.
E quando
você entender,
ele não terá
como se esconder.

Cristian Ribas

quarta-feira, 11 de julho de 2018

Instante (Poema)











Que horas
você vai chegar
pra me abraçar
e me mostrar
que está
tudo bem?
Vem,
que eu
já fiz o jantar,
arrumei a sala
e deixei tudo
em seu lugar
pra te esperar.
Vem,
pois já abri
o vinho
e não quero
tomar sozinho
sem ouvir
tuas histórias.
Vem,
que eu quero
me eternizar
em tua memória,
saborear
tua boca,
percorrer
tuas curvas
e escrever
meu desejo
em tua pele.
Vem,
pra eu me sentir
dentro
e refletir
teus sentimentos
em arrepios
e gemidos.
Vem,
pra eu iluminar
teus sonhos
e refletir
em teus olhos
o prazer
dos meus carinhos.
E quando
a gente adormecer,
você vai querer
que o tempo pare
nesse instante.


Cristian Ribas

segunda-feira, 2 de julho de 2018

Gris (Poema)









Não quero
pensar
que meu lugar
ao teu lado
inexiste.
Não devo
lembrar
que seu olhar
já brilhou
ao me ver
por perto.
Não devo
recordar
que,
ao te tocar,
fiz sua pele
arrepiar
e o tempo
parar.
Mas não consigo
ignorar
que o ar
não tem
a mesma leveza,
que o dia
não tem
a mesma beleza
e que as horas
demoram
a passar.
E nesse
horizonte gris,
esqueço
de você
e não lembro
mais de mim.


Cristian Ribas