segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

2018 - 2019


Astros Perdidos (Poema)



Ainda tenho esperança.
Mesmo com a mancha
em meu quadro,
com a ignorância
em meu fardo
e os astros
se perdendo
no espaço.
Mesmo
com experiências inglórias,
equívocos na história
e as sombras
que sopraram
em nossos moinhos.
Tenho esperança
porque sou adulto
que não esqueceu
de brincar,
apesar de tropeçar
nos metais
de falso valor.
Porque te amo
mesmo que você
não queira
e te admire
pela fresta da cegueira
que a saudade
ignorou.
Ainda acredito
porque sinto
o que há de melhor
e perdôo
por saber
o quanto já errei.
Tenho esperança
mesmo perdendo
o trem de teus lábios,
caindo dos trilhos
e fugindo em atalhos
que jamais
te encontrarão.
E sem a intenção
de modificar o destino,
seguirei sendo menino
em que o brilho
sempre estará
no amor
do teu caminho.

Cristian Ribas

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Colonização (Poema)



Não vou
fugir do assunto
pra idealizar
um novo mundo
que seja perfeito.
Não vou
te impor
minhas verdades
pela vaidade
de achar
que estou certo.
Não quero
te derrotar
numa discussão
pra ter
a pobre sensação
de superioridade.
Não pretendo
revelar teus defeitos
pra encontrar consolo
na minha mediocridade.
Só quero
a paz de teu abraço
pra apagar
todo o cansaço
desses dias tensos.
Quero o teu beijo
de origem despretensiosa
me dando provas
que nada está perdido.
Quero adormecer
no teu gemido,
no arrepio da tua pele
e no teu porto sorriso.
E perceber
no teu prazer
que não temos
mais tempo a perder
na colonização
do outro.

Cristian Ribas

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Não Gosto de Natal (Poema)




Não venha me questionar
que devo comemorar
o que pra mim
não faz sentido.
Não há motivação
em fingir alegria
quando há hipocrisia
em seus mitos.
A felicidade
não é medida
pelo calendário,
luzes piscantes
ou por pratos decorados
pelo inverno
que não nos pertence
ou por presentes
de obrigação.
Prefiro ficar
com minha solidão
do que cantar
uma canção
que não há razão
em sua melodia.
Ou me vestir
de vermelho
sem encarar
no espelho
as minhas antipatias.
Não quero
estar certo
ou errado,
ou te jogar um fardo
da história
de meus dias.
Apenas
não gosto de natal
e isso é mais natural
do que seu ritual
desconfia.

Cristian Ribas



domingo, 23 de dezembro de 2018

Intangível (Poema)




Você me deixou
a poeira sobre os olhos,
o peso sobre os ombros
e o cansaço
entre os espaços
que se fecharam
em teus escombros.
Aprendi
a respeitar teus monstros,
a admirar teus santos
e a ignorar
que teu passado
me deixou ilhado
em algum canto.
Reconheci
tua nobreza
na sutileza dos gestos,
no coração dileto
e nos feitos
que te moldaram
tão bela.
Vi tua luz de primavera
brilhar em minha tela
e o medo te consumir
como fera
que ignora
a razão.
E após
os dias de imensidão
e noites de trovão,
mantenho
meu coração
intangível
nos percalços
da cegueira.
Pois a beleza da vida
está na sabedoria do tempo
e no seu jeito
de consertar
as injustiças.

Cristian Ribas

terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Caminhos (Poema)



Não vou falar.
Melhor te admirar
enquanto o tempo
passa devagar
pela eternidade
de teus olhos.
Quero desfrutar
da tua companhia,
da tua alma solta
numa tarde vadia
que anoitece
em teus lábios.
Quero quebrar
as distâncias,
cruzar as fronteiras
e pintar minha bandeira
com tuas cores.
Inventar um motivo
sem nexo,
solucionar teoremas complexos
pra te ter por perto
enquanto o deserto
é semeado
pelo vento.
Quero ser
teu prazer de momento
que mergulha
no bom senso
e se torna indefeso
ao adormecer contigo.
E ao despertar
no lar do teu peito,
te darei o desejo
de me admirar
sorrindo
no silêncio
de nossos caminhos.

Cristian Ribas



sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Perseguindo o Ontem (Poesia)



Não me sacrifique
pelos traumas
do teu passado
se quem estava
ao seu lado
não soube
te cuidar.
Não me verá
perseguindo o ontem
pra cobrir a fonte
de nossas desculpas
pra infelicidade.
Eu sou 
o molde dos enganos
e o resultado dos planos
que perderam a validade.
Sou o hoje lapidado,
sou a resistência
às experiências
que me machucaram
mas não roubaram
meu sorriso.
Então, 
não tenha medo
do que aconteceu.
Pois se digo
que meu amor
é teu,
é porque
quero construir
um novo céu
contigo.

Cristian Ribas

OBS: Escrita ao som de "While The Song Remains the Same", de Noel Gallagher's High Flying Birds, que cita o título do segundo álbum da banda, "Chasing Yesterday". Captado? ✌😜

quarta-feira, 12 de dezembro de 2018

Coração de Ouro (Poema)



Não se assuste
com o frio
que meu lado sombrio
pode provocar.
Deixe
me encaixar
em teu vazio
com meu jeito vadio
de te amar
sem pressa.
Vou te abraçar
sob a nuvem espessa
e quando você
perder a cabeça 
encontrará
seu lar
em meu olhar.
Sou só um tolo
de olhar mouro
e um coração de ouro
que voltou
a se quebrar.
E quando
a luz se apagar
serei teu abrigo,
pois comigo
estará
tua paz.

Cristian Ribas

Obs.: Escrito ao som de "Heart of Gold", de Neil Young.

domingo, 9 de dezembro de 2018

A Semente da Lua (poema)




Quem diria
que a lua viria
alegrar meu dia
com sua luz.
Entre nuvens gigantes,
sonhos distantes
e vozes ausentes,
ainda existe na gente
o que nossa semente
aflorou.
Por mais estranho
que possa ter sido
o nosso caminho,
arando terras, 
quebrando vidros,
carregando pedras
e saboreando vinhos,
o que fica nítido
é que o nosso melhor
permaneceu.
E entre lágrimas e saudade,
se eternizou a vontade
de ver a felicidade
do outro.
Toda vez que sorrir
estarei aí
como um amuleto
de tua lembrança.
E quando tudo se for
saberá que o amor
te fará
superar
qualquer batalha.

Cristian Ribas

sábado, 8 de dezembro de 2018

Admissão (poema)



Te busco
em meu abraço
no vácuo
da saudade
e nas frases
que juntam os cacos
da realidade.
É duro admitir
que tenho que seguir
sem te proteger
do fantasma
de teus medos.
Sinto o peso
nos teus ombros,
reconheço
a face de teus monstros
mas não consigo
abrir teus olhos.
Nessa luta inglória,
acredito na tua força
e na herança
de teu sangue e legado.
E como soldado,
regresso calado,
respeitando tua liberdade
e acreditando
que é capaz
de vencer
teu passado.

Cristian Ribas

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O Karma de Escrever (Crônica)





               Confesso que ando aéreo, desfocado, meio desligado, com a cabeça vagando entre idéias mas sem mergulhar em algum assunto. Ando raso, precavido, sem a audácia do aprofundamento ou o brilho do encantamento. Tão somente um espectador passageiro de um mundo que já não tem a mesma alegria.
               Fico pensando sobre meu último livro de poesias: Transbordar. Recém lançado, carregado de amor, entrega, homenagem e devoção. E percebo que, lidar com a arte, com a criação, carrega um grande karma perante alguns olhares de admiração e milhares de questionamento. Vejo que algumas pessoas não lêem o livro pelo prazer da poesia e da auto-reflexão. Mas, como uma busca inquisitória de cada palavra para depreciar os sentimentos de quem a escreve. E isso me entristece.
               Aliás, as críticas pessoais que recebi sobre o livro servem como uma analogia sobre a vida. Quem realmente está preparado para ser feliz? Quem está disposto a construir a felicidade? Quem é capaz de controlar e superar os instintos negativos e valorizar o belo, o bom, o que te engrandece?
               Nosso cérebro, de algum modo, está programado pelo ego a não aceitar o contraditório. Tudo o que é diferente, tudo o que nos ofende e nos agride, fica se repetindo, em "looping", em nossa cabeça, alimentando um sentimento de não aceitação e hostilidade. E, desta forma, nossa vaidade ignora todas as coisas belas e boas que nos aconteceu, pra supervalorizar aquilo que desafia e questiona nossa "perfeição".
               Não é de hoje que enfrento isso com os meus escritos. Muitas vezes meu caráter, sentimentos e personalidade foram julgados por alguns poemas, porque a pessoa não entendeu ou por achar que a motivação das palavras era diferente daquilo que a pessoa desejava. E a partir que quem escreve não tem a confiança de quem está ao seu lado, que possui algum tipo de bloqueio ou censura na sua escrita, ele perde a principal qualidade de qualquer obra de criação: a liberdade. Sem a liberdade, se perde o prazer. Sem o prazer, se perde a motivação. sem a motivação, não há porque escrever. Isso me ocasionou um período de cinco anos sem nenhum texto ou poema. Por isso, a diferença de meu segundo livro ser de 2009 e o terceiro somente em 2016.
               Então, sinto a tristeza de ver que, algo que fiz com tanto carinho e beleza, possa machucar ou ofender alguém. Mas, sou consciente de que não sou capaz de derrotar os monstros que existem na alma de outra pessoa. Só a mesma pode aceitar e encarar isso. E enquanto isso não ocorre, tento redescobrir o prazer de escrever, desejando que ninguém use essas palavras contra mim e que todos sejam capazes de construir a felicidade em detrimento de sua vaidade.

Cristian Ribas

domingo, 2 de dezembro de 2018

A Grandiosidade das Pequenas Coisas (Crônica)




               Alan Alexander Milne já era um reconhecido escritor e dramaturgo na década de 1920. Havia trocado a movimentada capital Londres por uma casa de campo em Sussex, 50 quilômetros ao sul de Londres, juntamente com sua esposa, filho e babá. Procurava inspiração, tranqüilidade, paz. O retorno das palavras, tão abundantes, que, de algum modo, o haviam abandonado.
               Milne tinha um objetivo em mente. Atormentado por todos os fantasmas da Primeira Guerra Mundial, queria escrever uma grande obra pacifista. Mostrar aos britânicos o quão nociva são as batalhas e seus traumas. Pensava que tinha essa obrigação. Carregava esse peso em seus ombros e se considerava capaz de conscientizar a sua nação para evitar novos confrontos. E nessa busca incessante, se tornara um vulto vagando pela casa, distante de sentimentos e sem encontrar suas respostas.
               Certo dia, sua esposa, Daphne, cansada do mau humor e isolamento do marido, resolveu passar uns dias em Londres e disse que só voltaria quando ele escrevesse algo. Logo em seguida, a mãe da babá ficou doente. Milne ficou, pela primeira vez, só com seu filho de seis anos, Christopher Robin. O escritor teve que abandonar sua solidão e, sem o menor jeito, cuidar do menino. Nos passeios pela floresta de Ashdown, percebeu o pequeno universo de brincadeiras que seu filho vivenciava com seus bichos de pelúcia: um urso, um burro, um leitão, um tigre, e mais tarde, um canguru e seu filhote. A cada nova aventura que seu filho imaginava, aumentava seu encanto. Convidou seu amigo  ilustrador Ernest H. Shepard para presenciar seu filho brincando no bosque com seus bichos de pelúcia. E assim nascia, despretensiosamente, a considerada melhor história infantil de todos os tempos.
               A.A. Milne, preso a seus traumas de guerra, demorou a entender que, assim como ele, todo o Reino Unido sofreu atônita com as batalhas e suas mortes. De modo simples, havia esquecido a felicidade das pequenas coisas. E o menino Christopher Robin com toda a turma do Ursinho Pooh (Winnie the Pooh) e seus amigos, trouxe essa pureza e alegria de volta a todos os seus leitores.
               Confesso que nunca fui fã do Ursinho Pooh. Sempre achei o Tigrão muito louco e o burrinho muito depressivo. Mas, ao conhecer a história de sua criação, fiquei encantado pela sua singeleza e significado. Eu sei que a fama e o sucesso subiram à cabeça de A.A. Milne, que houve uma exposição excessiva de seu filho Christopher Robin que lhe trouxeram muitos traumas, afastando pai e filho, e que a Segunda Guerra Mundial veio uma década após. Mas, me apego aos momentos de felicidade no "Bosque dos Cem Acres". Ao instante em que o menino trouxe seu pai para seu universo e lhe ensinou a brincar. E, principalmente, que a paz, só tocou sua alma, quando encontrou, no sorriso de seu filho, a grandiosidade das pequenas coisas.

Cristian Ribas