domingo, 24 de fevereiro de 2019

O Elo (Poema)




Nunca prometi
que te amaria.
Simplesmente
entreguei
aos dias
a alegria
de estar em ti.
Talvez perceba
o quanto 
está em mim.
No olhar admirado,
nas conversas infinitas,
no abraço apertado,
no despertar
de corpos colados
que me deixou 
desarmado.
Você reconhece
meu jeito
de sorrir
e a tristeza
quando tenho
que partir.
E agora,
o que faço
com os pedaços
que teimam
em se dividir?
Nesses dias
tão estranhos,
os caminhos
se tornaram
mais longos
e opacos.
E no seu retrato,
ainda vejo
o que há
de mais belo
mesmo
que o elo
esteja
quebrado.

Cristian Ribas

Marte (Poema)




Na sequência dos dias,
lágrimas caídas
se  perdem
em meus confins
e descobrem
o que desconheço.
Cruzei vielas,
calçadas concretas
e ruas desertas,
de esquinas floridas
e pétalas perdidas.
Deixei
minha bandeira
hasteada,
sentei na sarjeta
e esperei a vida
contornar
seu beco sem saída
de forma descontraída.
Entre aromas e olhares,
toques e sabores,
fiquei paralisado,
soprando no vento
enquanto o tempo
ignorava
o certo e o errado.
Frescor,
leveza,
a queda do pudor
e a certeza
de que o amor
não é para os fracos.
Encarei
a nudez dos fatos,
o calor dos corpos
emaranhar os laços
e me jogar
em teus braços.
Ao cair
do teu céu,
as pontes iluminadas
apagaram as estradas
que me levariam
a você.
E, dilacerado,
colo as partes
que me jogam
pra Marte
sem a arte
de vivenciar
a paixão.

Cristian Ribas

Superfície (Poema)




Me perdoe
se você me ensinou
a voar
e eu não
consigo mais
tocar
o chão.
Sinto
que estou caindo
de nosso
singelo paraíso
mas nem por isso
desisto 
de te amar.
A superfície
jamais será
o bastante
deste o instante
que mergulhei
em ti.
Não vestirei
um terno
pra pertencer
a um mundo moderno
que não vê
além de seu ego.
Apenas
quebramos as verdades
de uma realidade
que vai além
das aparências.
E quando
a música acabar
é sua voz
que jamais deixará
minha cabeça.

Cristian Ribas

Obs: Poema escrito ao som de "Shallow", de Lady Gaga. 

Nada Será Novamente (Poesia)




Enfrento
a maturidade
me dizendo
verdades
que prefiro
ignorar.
Na frieza 
dos fatos,
na contagem
dos estragos
ou na coerência
dos cálculos,
nada será
novamente.
Você sabia
que era despedida
na última vez
que beijava
quem amava,
que brincava
com amigos
na calçada,
que abraçava
um ente querido
ou brigava
por uma tolice
qualquer?
Qual
a última vez
que você desejou
não ter razão
pra não despedaçar
algum coração?
Quando você
teve
que seguir
mesmo
querendo
ficar?
Quando
o seu lar
se tornou
um lugar
sem sentido
e você
não soube
encontrar
seu abrigo?
Quando você
teve que calar
e não pode falar
tudo o que sentia?
Quando a companhia
que te tornou
repleta
te deixou vazia
e os dias
não tiveram
a mesma
alegria?
Entre chegadas
e partidas,
a ampulheta
move a vida
entre perdas
e descobertas.
E nessa véspera
de quem seremos,
agradeça
pelas lições,
distribua perdões
e saiba ver
que ali na frente
está somente
o que a gente
merece viver.

Cristian Ribas

Irrelevância (Poesia)




É fácil
perceber
que não lembrei
em te esquecer.
Basta olhar
meu rastro
e ver que
em cada passo
há um pouco
de você.
Na velocidade
das horas,
na irrelevância
do agora
ou na forma
em que os dias
seguem 
sua trilha,
sinto o presente
com tua nostalgia,
com a sutil Oi
melancolia
de que nada
será igual.
Te escrevo
nas entrelinhas,
te provoco
com minha ironia
e te deixo sozinha
enfrentando
teus medos.
Pois amar 
é respeitar a vontade
mesmo que
a tua liberdade
me apague
de tuas lembranças.

Cristian Ribas

Terra Prometida (Poema)




Onde foi
que nos perdemos
no caminho
tortuoso e derradeiro
de sonhos e medos?
Lembro
de você na praia,
nossa fotografia
engraçada,
onde faltava dinheiro
e sobravam delírios
sobre um futuro
que nunca chegaria.
Tínhamos
nosso império
de castelos de areia,
de tesouros invisíveis
que encontrava
em teus lábios.
Você parava
meu tempo,
entre o choque das ondas
e a viagem profunda
em tua terra prometida.
Entre
chegadas e partidas,
jamais nos demos conta
de quando foi
a despedida.
Apenas
o som da sinfonia
da tempestade
que viria
quando o amor
morreu na água.

Cristian Ribas

Obs: poema inspirado na letra da bela canção "Dead in the Water", do gênio Noel Gallagher.

Me Acorde (Poema)




Me acorde
com seu beijo,
como um sonho
que há tempos
eu não tenho.
Chegue
suavemente,
com teus
lábios úmidos
e colo quente,
como o presente
que sempre
esperei.
Se aconchegue
entre meus braços,
preenchendo
o imenso espaço
que sempre
foi seu.
Me contemple
de olhos fechados,
segurando
minhas mãos
e adormecendo
com os corpos colados.
E sem 
uma palavra,
fique.
Pois esse
é o momento
que o tempo
se torna eterno
em nossas vidas.

Cristian Ribas

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

A Âncora (Poema)




Você viu
como o meu
coração
partiu
em suas mãos?
Me perdoe
se não compreendi
teus medos
e, ao vê-los,
percebi
que não entendia
a mim mesmo.
Ao não
me conhecer,
ficou fácil
me perder
nos teus encantos
coberto
pelo manto
da ignorância.
Não te culpo
se a esperança
se torna âncora
quando não guiamos
o destino,
e lá não fundo
do mar
não há o ar
para nos salvar.
E se ainda
estou vivo,
é porque
meu sorriso
sempre será
capaz de brilhar.

Cristian Ribas


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2019

O Abrigo (Poema)





Amaria te dizer
que tudo
dará certo,
que as noites
se iluminarão
a cada verso
e que os dias
serão mais belos
ao te ter
por perto.
Que tudo
será infinito,
nas madrugadas
de amor
e nas manhãs
de sorriso,
mas eu desconheço
a sabedoria
do universo,
suas lições
escondidas
e as reações
intrínsecas
às nossas imensas
limitações.
Apenas
deite aqui
nesse momento
em que o vento
sopra teus medos
e permita
que meu beijo
seja teu abrigo
daquilo
que ainda
não conseguimos
nos curar.
Por mais
que desconheçamos
a vida e seus sentidos,
fica comigo
nesse segundo
em que o mundo
não pode
nos alcançar.

Cristian Ribas


segunda-feira, 4 de fevereiro de 2019

Efeito (Poema)




Pelo vão
da janela
eu via ela
abandonando
meu peito.
Num caminho estreito,
perdi seu olhar
num corredor
onde o amor
não podia mais
me guiar.
Atrás da porta,
estavam as respostas
que ela
não quis 
encarar.
Uma verdade crua
da palavra nua
carregada
de sentimentos.
Naquele momento,
eu não sabia
porque lamentar.
Pelas injustiças julgadas,
pelas juras rasgadas
ou pelo futuro
que acabava
sem ter razão
pra terminar.
E nas peças
que sobraram,
deixei o medo
de lado
e colhi no tempo
o remédio
que ainda
não fez
efeito.

Cristian Ribas