sábado, 18 de outubro de 2014

Duas Mãos (conto)



   Minhas mãos ainda tremem e o coração teima em sair pela boca. Meu nervosismo é tanto que, instintivamente, passo a mão em meus cabelos tentando disfarçar o branco que se espalha em minha cabeça. Automaticamente, meu sorriso bobo não condiz com minha idade e o suor de minhas mãos me faz mergulhar na lembrança de quando a vi pela primeira vez naquela tarde de inverno. E mesmo que os anos tenham passado e as rugas tenham desenhado o mapa de minhas experiências em meu rosto, a minha alma é adolescente. Me sinto completamente sem chão. Talvez, porque aquele sorriso de outrora, no mergulho mais profundo de meus sentidos, ainda me faça voar.
   Ao senti-la em minha presença, um redemoinho de emoções me levita e me choca às nuvens. Jamais imaginei que, mesmo com o passar dos dias, ela estaria mais bela. Um brilho de menina meiga no corpo de mulher madura me transporta ao nirvana. Não consigo reconhecer onde estou, os sons que me circundam ou as cores que pintam o horizonte. Um magnetismo translúcido direciona todos os meus sentidos para ela. O mesmo cheiro, o mesmo olhar, a mesma sensação que me faz perder todas as respostas de homem maduro. Que joga todas as inseguranças sobre a minha cabeça mas que, ela, simplesmente ela, me liberta.
   Ao me aproximar e sentir um terremoto em minhas pernas, consigo pegar em sua mão e dizer um "oi" sem desviar o olhar. Vejo que seu sorriso tímido segue intacto e seu olhar foge para o chão, mas volta, mais intenso e inebriante. Ao estender minha mão ao seu rosto e mexer em seu cabelo, é como se cada ano perdido fosse recuperado. E aquele sentimento esquecido num canto entre a ilusão e a saudade viesse soterrando qualquer indagação. Tudo o que me importava era ela. E quando pude sentir seu abraço, sua cabeça reclinada em meu peito com meus braços envoltos em seu corpo, eu voltei a sentir a fusão de nossas emoções. Senti como se nossas almas nunca tivessem separadas. E percebi que o tempo não passa de números quando se reencontra o melhor de nós mesmos em alguém.
   Não sei se é dia ou noite. Se chove lágrimas ou se os pássaros cantam em revoadas. Só sei que, nos braços dela, é onde quero permanecer, renascer e morrer. Por mais que a vida nos desafie com suas batalhas, o destino sempre se encarrega de ser irônico e justo. E mesmo que a rotina da distância tenha tornado tudo cinza, vejo com clareza que, todas as cores, só podem ser pintadas, em duas mãos.

By Cristian Ribas

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