quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

O Karma de Escrever (Crônica)





               Confesso que ando aéreo, desfocado, meio desligado, com a cabeça vagando entre idéias mas sem mergulhar em algum assunto. Ando raso, precavido, sem a audácia do aprofundamento ou o brilho do encantamento. Tão somente um espectador passageiro de um mundo que já não tem a mesma alegria.
               Fico pensando sobre meu último livro de poesias: Transbordar. Recém lançado, carregado de amor, entrega, homenagem e devoção. E percebo que, lidar com a arte, com a criação, carrega um grande karma perante alguns olhares de admiração e milhares de questionamento. Vejo que algumas pessoas não lêem o livro pelo prazer da poesia e da auto-reflexão. Mas, como uma busca inquisitória de cada palavra para depreciar os sentimentos de quem a escreve. E isso me entristece.
               Aliás, as críticas pessoais que recebi sobre o livro servem como uma analogia sobre a vida. Quem realmente está preparado para ser feliz? Quem está disposto a construir a felicidade? Quem é capaz de controlar e superar os instintos negativos e valorizar o belo, o bom, o que te engrandece?
               Nosso cérebro, de algum modo, está programado pelo ego a não aceitar o contraditório. Tudo o que é diferente, tudo o que nos ofende e nos agride, fica se repetindo, em "looping", em nossa cabeça, alimentando um sentimento de não aceitação e hostilidade. E, desta forma, nossa vaidade ignora todas as coisas belas e boas que nos aconteceu, pra supervalorizar aquilo que desafia e questiona nossa "perfeição".
               Não é de hoje que enfrento isso com os meus escritos. Muitas vezes meu caráter, sentimentos e personalidade foram julgados por alguns poemas, porque a pessoa não entendeu ou por achar que a motivação das palavras era diferente daquilo que a pessoa desejava. E a partir que quem escreve não tem a confiança de quem está ao seu lado, que possui algum tipo de bloqueio ou censura na sua escrita, ele perde a principal qualidade de qualquer obra de criação: a liberdade. Sem a liberdade, se perde o prazer. Sem o prazer, se perde a motivação. sem a motivação, não há porque escrever. Isso me ocasionou um período de cinco anos sem nenhum texto ou poema. Por isso, a diferença de meu segundo livro ser de 2009 e o terceiro somente em 2016.
               Então, sinto a tristeza de ver que, algo que fiz com tanto carinho e beleza, possa machucar ou ofender alguém. Mas, sou consciente de que não sou capaz de derrotar os monstros que existem na alma de outra pessoa. Só a mesma pode aceitar e encarar isso. E enquanto isso não ocorre, tento redescobrir o prazer de escrever, desejando que ninguém use essas palavras contra mim e que todos sejam capazes de construir a felicidade em detrimento de sua vaidade.

Cristian Ribas

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