Confesso
que ando aéreo, desfocado, meio desligado, com a cabeça vagando entre idéias
mas sem mergulhar em algum assunto. Ando raso, precavido, sem a audácia do
aprofundamento ou o brilho do encantamento. Tão somente um espectador
passageiro de um mundo que já não tem a mesma alegria.
Fico
pensando sobre meu último livro de poesias: Transbordar. Recém lançado,
carregado de amor, entrega, homenagem e devoção. E percebo que, lidar com a
arte, com a criação, carrega um grande karma perante alguns olhares de
admiração e milhares de questionamento. Vejo que algumas pessoas não lêem o
livro pelo prazer da poesia e da auto-reflexão. Mas, como uma busca
inquisitória de cada palavra para depreciar os sentimentos de quem a escreve. E
isso me entristece.
Aliás,
as críticas pessoais que recebi sobre o livro servem como uma analogia sobre a
vida. Quem realmente está preparado para ser feliz? Quem está disposto a
construir a felicidade? Quem é capaz de controlar e superar os instintos
negativos e valorizar o belo, o bom, o que te engrandece?
Nosso
cérebro, de algum modo, está programado pelo ego a não aceitar o contraditório.
Tudo o que é diferente, tudo o que nos ofende e nos agride, fica se repetindo,
em "looping", em nossa cabeça, alimentando um sentimento de não
aceitação e hostilidade. E, desta forma, nossa vaidade ignora todas as coisas belas
e boas que nos aconteceu, pra supervalorizar aquilo que desafia e questiona
nossa "perfeição".
Não
é de hoje que enfrento isso com os meus escritos. Muitas vezes meu caráter,
sentimentos e personalidade foram julgados por alguns poemas, porque a pessoa
não entendeu ou por achar que a motivação das palavras era diferente daquilo
que a pessoa desejava. E a partir que quem escreve não tem a confiança de quem
está ao seu lado, que possui algum tipo de bloqueio ou censura na sua escrita,
ele perde a principal qualidade de qualquer obra de criação: a liberdade. Sem a
liberdade, se perde o prazer. Sem o prazer, se perde a motivação. sem a
motivação, não há porque escrever. Isso me ocasionou um período de cinco anos
sem nenhum texto ou poema. Por isso, a diferença de meu segundo livro ser de
2009 e o terceiro somente em 2016.
Então,
sinto a tristeza de ver que, algo que fiz com tanto carinho e beleza, possa machucar
ou ofender alguém. Mas, sou consciente de que não sou capaz de derrotar os
monstros que existem na alma de outra pessoa. Só a mesma pode aceitar e encarar
isso. E enquanto isso não ocorre, tento redescobrir o prazer de escrever,
desejando que ninguém use essas palavras contra mim e que todos sejam capazes
de construir a felicidade em detrimento de sua vaidade.
Cristian Ribas
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