domingo, 2 de dezembro de 2018

A Grandiosidade das Pequenas Coisas (Crônica)




               Alan Alexander Milne já era um reconhecido escritor e dramaturgo na década de 1920. Havia trocado a movimentada capital Londres por uma casa de campo em Sussex, 50 quilômetros ao sul de Londres, juntamente com sua esposa, filho e babá. Procurava inspiração, tranqüilidade, paz. O retorno das palavras, tão abundantes, que, de algum modo, o haviam abandonado.
               Milne tinha um objetivo em mente. Atormentado por todos os fantasmas da Primeira Guerra Mundial, queria escrever uma grande obra pacifista. Mostrar aos britânicos o quão nociva são as batalhas e seus traumas. Pensava que tinha essa obrigação. Carregava esse peso em seus ombros e se considerava capaz de conscientizar a sua nação para evitar novos confrontos. E nessa busca incessante, se tornara um vulto vagando pela casa, distante de sentimentos e sem encontrar suas respostas.
               Certo dia, sua esposa, Daphne, cansada do mau humor e isolamento do marido, resolveu passar uns dias em Londres e disse que só voltaria quando ele escrevesse algo. Logo em seguida, a mãe da babá ficou doente. Milne ficou, pela primeira vez, só com seu filho de seis anos, Christopher Robin. O escritor teve que abandonar sua solidão e, sem o menor jeito, cuidar do menino. Nos passeios pela floresta de Ashdown, percebeu o pequeno universo de brincadeiras que seu filho vivenciava com seus bichos de pelúcia: um urso, um burro, um leitão, um tigre, e mais tarde, um canguru e seu filhote. A cada nova aventura que seu filho imaginava, aumentava seu encanto. Convidou seu amigo  ilustrador Ernest H. Shepard para presenciar seu filho brincando no bosque com seus bichos de pelúcia. E assim nascia, despretensiosamente, a considerada melhor história infantil de todos os tempos.
               A.A. Milne, preso a seus traumas de guerra, demorou a entender que, assim como ele, todo o Reino Unido sofreu atônita com as batalhas e suas mortes. De modo simples, havia esquecido a felicidade das pequenas coisas. E o menino Christopher Robin com toda a turma do Ursinho Pooh (Winnie the Pooh) e seus amigos, trouxe essa pureza e alegria de volta a todos os seus leitores.
               Confesso que nunca fui fã do Ursinho Pooh. Sempre achei o Tigrão muito louco e o burrinho muito depressivo. Mas, ao conhecer a história de sua criação, fiquei encantado pela sua singeleza e significado. Eu sei que a fama e o sucesso subiram à cabeça de A.A. Milne, que houve uma exposição excessiva de seu filho Christopher Robin que lhe trouxeram muitos traumas, afastando pai e filho, e que a Segunda Guerra Mundial veio uma década após. Mas, me apego aos momentos de felicidade no "Bosque dos Cem Acres". Ao instante em que o menino trouxe seu pai para seu universo e lhe ensinou a brincar. E, principalmente, que a paz, só tocou sua alma, quando encontrou, no sorriso de seu filho, a grandiosidade das pequenas coisas.

Cristian Ribas

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