domingo, 18 de novembro de 2018

Eu Tenho Medo (Crônica)






               Sinto um aperto no peito. Minhas mãos suam. Olho para elas e percebo um leve tremor.  Fico ansioso, agitado, desconfortável. Não consigo permanecer quieto, focado, centrado, e pensamentos angustiantes se repetem em looping na minha cabeça. Não há como negar: estou com medo.
               Confesso que essa sensação de descontrole é desagradável. Me tenciona, incomoda e limita. Como se eu deixasse de ser protagonista da vida, atuando em meus próprios atos, e me tornando um mero espectador, alguém que só pode contar com a sorte ou o bom senso alheio pra que algo ruim não ocorra. Como alguém que joga as fichas nas cartas que estão em outras mãos. Fico em silêncio, mergulhado na minha ansiedade, contando grãos de areia que descem em câmera lenta por uma velha ampulheta. Mas, afinal de contas, por que tenho medo?
                Creio que, o ponto de partida, é ter-se a humildade pra reconhecer o medo. De alguma forma, esse sentimento em nossa sociedade é subjugado, incompreendido, diminuído. É tratado como defeito de perfil e desvio de caráter. Mas, medo não deve ser confundido com covardia. É um sentimento instintivo. É o nosso lado "bicho" agindo com o ambiente ou situação que nos desafia. E o que nos causa medo?
               Olhando para o espelho, num breve momento de sobriedade e clareza, meu olhar sereno encara minhas limitações. E percebo, de forma simplista, que só se pode temer duas coisas: o conhecido e o desconhecido (risos). Muita "hora nessa calma". Não devemos se afligir com tudo.
               O medo do "desconhecido", de algum modo, se denota ignorância de nossa parte. Mostra alienação, crendice e, às vezes, soberba, por não querer se aprofundar no fato e se prender aos seus dogmas. Então, humildade e esclarecimento sempre serão um ótimo caminho a ser seguido.
               Sobre o temor "daquilo que conhecemos", há inúmeras razões que nos norteiam. Mas, quando se fala de sentimentos, não há dúvidas que nossas vivências, em algum instante, tornou-se trauma. Uma ferida aberta na alma que, com o passar dos anos, não conseguiu cicatrizar. E nós, como "bichos" que ainda somos, acabamos nos prendendo a situações que nos machucaram e magoamos quem não tem nenhuma culpa pela dor que nós sentimos e não conseguimos superar.
               E como vencer o medo? Se amando, perdoando os outros e a si mesmo, compreendendo as lições de cada situação e evoluindo. É um processo doloroso, demorado, que exige muita coragem em reconhecer as próprias fragilidades. Olhar no espelho e encarar a nossa imagem mais sombria e despertar a luz nela. Desenvolver a empatia e ampliar nosso entendimento de ações, atitudes e sentimentos. E sendo gratos por quem nos tornamos e por quem cruzou nosso caminho.
               Confesso: tive medo em não conseguir completar esse texto. Mas, com uma palavrinha aqui, outra ali, ele foi se encaixando. Desejo que, quem chegou até aqui, colha bons fluídos. E não tema em seguir evoluindo.

Cristian Ribas

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