Caminhando
pela sala, entre afazeres pendentes e sentimentos presentes, uma melodia doce e
antiga despertou da minha alma e pairou repetidamente na minha cabeça, sendo
balbuciada pelos meus lábios. Enquanto o relógio perdia a hora, eu voltava no
tempo repentinamente. Voltei a ser um mero adolescente, de olhos luminosos e
coração puro, que achava que o futuro seria mais simples em suas lições.
Ao me deparar
com a melodia na cabeça, lembrei imediatamente da cena: meu primo, dois anos
mais velho, ao receber minha visita, estava ouvindo uma fita cassete que havia
recebido de um amigo. Naquele momento, eu ainda não tinha sido capturado pela
energia e questionamentos do rock, vagando sem ter um paradeiro certo nos
ritmos que embalariam minha trilha sonora. Questionei e meu primo contou que
seu amigo era fã de um velho roqueiro canadense. Escutei aquela mistura de
violões, gaita de boca e violino tão melodicamente sincronizados. Me senti
viajante na voz aguda de Neil Young.
Enquanto eu
mergulhava nas profundezas do rock, meu olhar se perdia nas rotações da fita
Basf cromo de 60 minutos, fechando os olhos e balançando instintivamente a
cabeça, me levando sem questionamentos no embalo das canções. De repente, uma
música em especial fascinou meus sentidos. Obrigatoriamente, apertei no pause e
voltei a fita, manuseando os botões e procurando o início da música. Fui
hipnotizado. No final, pause, volta a fita e toco de novo. Uma, duas, três,
infinitas vezes. Do início da tarde até chegar a noite. Me encontrei numa
canção. Uma poesia lírica que embalava meus delírios juvenis.
Um tempinho
passou, consegui um violão emprestado e aprendi sozinho a tocar o instrumento.
Um sonho de infância que era barrado nos traumas de minha mãe que preferia me
dar relógios pra evitar que eu fosse músico como meu pai. Na solidão de meu
quarto e na criatividade dos meus questionamentos de adolescente, uma de minhas
primeiras composições foi instintivamente uma versão daquela canção de Neil
Young que eu não sabia o nome.
Hoje, numa
tarde em que o universo parecia arredio e este velho coração batia sob
intempéries, a canção perdida voltou pra apaziguar meu coração. Abri o youtube
e vasculhei as canções de Neil Young. Quando parecia tudo perdido e a
desistência se aprochegava sem reverência, a música me encontrou. Ouvi aquele
solo de violino e, entre um sorriso largo pela conquista, uma lágrima escapou
sem permissão. É “Comes a Time” o nome dela. E a escutei até anoitecer sem
precisar apertar o pause no meu celular. Apenas dancei na solidão de meu
coração adolescente.
Cristian
Ribas
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