Sabia que ele chegaria. Um fio de cabelo branco, ilhado pela imensidão da negritude de meus pelos. Um intruso, aliado do tempo e carregando em si todas as razões para chegar, ficar e, aos poucos, deixar seu legado e iniciar um novo ciclo.
Confesso que ele parecia distante, como um número que não pertencia ao meu cotidiano, mas sim, descrevia a realidade de outros ao meu redor. Eu via indícios, quando percebia que minhas músicas favoritas tem mais de duas décadas, que as rugas escrevem sua história no rosto de minha mãe, e minha amada irmã, que carreguei no colo, me deu uma linda sobrinha. Me dei conta ao recordar tantos insucessos que forjaram minha alma. Pessoas que deixaram seu amor, levaram o meu e seguiram seu caminho. Tantas lições que teimosamente ignorei e alguns momentos em que o êxito abençoou meu esforço. Sonhos intensos e breves que se dissolveram, e outros, tão fortes e impulsivos, que ainda norteiam meus gestos.
Imaginava, na minha longínqua inocência juvenil, que os cabelos brancos me trariam a mesma sabedoria que eu admirava em meus antepassados, me dariam aquele olhar que sempre aponta o caminho mais tranqüilo pra quem amamos e a paciência pra ouvir e definir qualquer dúvida com a palavra certa. Defronte meus atos e os pensamentos que permeiam minhas divagações, me deparo com minha tolice e incertezas. Mas com uma fé inabalável.
Benvindo, cabelo branco, com todo o significado de sua existência, e dos novos desafios que se formarão por essa estrada. Estarei com o peito aberto, pernas fortes e sorriso bobo, saboreando cada segundo. De seus amores, glórias, histórias decepções, lições, quedas, e a eterna busca da compreensão. Pois nada será em vão. Serão necessários pra nossa evolução.
By Cristian Ribas
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