Maradona com a taça em 1986. Matthäus em 1990. E em 2014? |
Com 6 anos de idade, eu vi a final de 1982. Quer dizer, uma parte, pois lembro de acordar num cochilo de tarde dominical e ver a Itália fazendo gol sobre a Alemanha. Eu não tinha a dimensão do que eu vivenciava. Isso só foi acontecer quatro anos mais tarde. Com 10 anos, vivi toda a expectativa daquela copa. Colecionava as figurinhas do chiclé Ping Pong, anotava as escalações para meus times de botão, os resultados na tabela da copa, esperava o Araken "o gol-man" após os jogos do Brasil, jogava bola na rua imaginando ser Elkjaer, Laudrup, Butragueño, Hugo Sanchez, Belanov, Zico, Careca, Burruchaga, Rummenigge, Pfaff, Schumacher, Gerets, Lineker, Matthäus, Maradona, entre tantos outros craques que pairavam em nossa imaginação infantil com suas façanhas. Logo, uma final de Copa do Mundo entre Argentina e Alemanha me soa muito familiar.
Gol de Völler na final do México |
Em 1986, na velha TV Telefunken preto e branco de minha avó, lembro de toda a expectativa do jogo final. De tudo o que Maradona já tinha feito até então e da facilidade com que a Alemanha venceu a França na semifinal. Do Osmar Santos (preferia o Luciano do Valle) narrando a final na Globo. O gol de cabeça do zagueiro Brown. O segundo gol de Valdano no início de segundo tempo. A incrível reação alemã que, na pressão, buscou o empate. A genialidade de Maradona, no final, lançando Burruchaga e fazendo o gol do título. E o que ficou mais marcado em minha memória: após a festa, encontrar todos os meus amigos e falarmos sobre a final. E é claro: jogarmos bola.
Gol do título de Burruchaga, para desespero de Briegel e Schumacher. |
Na Copa de 1990, ficou muito marcado a eliminação pra Argentina nas oitavas, no melhor jogo do Brasil, com três bolas na trave, mas, novamente, a genialidade de Maradona resolveu tudo. Como essa eliminação precoce da seleção modificou as transmissões, da torcida por Camarões, como Goicochea defendia pênaltis e como tecnicamente os jogos eram fracos, com as defesas sempre recuando a bola para os goleiros. Foi o ápice do legado negativo da derrota do Brasil em 1982: o medo de perder era maior que a vontade de vencer.
O gol do título de 1990. Brehme superando Goicochea. |
Na final em Roma, a Alemanha (que tinha feito uma campanha muito melhor) massacrou a Argentina. Dominou o jogo o tempo inteiro. Maradona (pra quem eu torcia no Napoli, no campeonato italiano) não tinha espaço. Não lembro dos "albicelestes" finalizarem. O que ficou muito nítido, foi um pênalti claro não marcado, e o pênalti marcado que não foi. Vitória alemã de 1x0, gol de pênalti. Merecido, mas injusto da forma como aconteceu. Um retrato fiel da pior Copa do Mundo tecnicamente já disputada.
Völler e Matthaüs cercam Maradona. Sem espaço para ser genial em Roma. |
Nessa final no Maracanã, por tudo o que já fez, a Alemanha entra em vantagem. Um jogo coletivo, de alta velocidade e rotatividade. O jogo contra o Brasil não conta. Aquilo foi uma hecatombe que só ocorre a cada cem anos. Já a Argentina, chegou até aqui graças à genialidade de Messi (assim como Maradona no México 86 e Itália 90) e o reconhecimento de sua fragilidade defensiva, o que ocasionou uma dedicação de todos pra suprir esta debilidade.
Antes de começar a Copa, eu brincava que o Governo Brasileiro estava investindo pesado pra Argentina ser campeã. Pois, se existe uma característica em que os "deuses do futebol" são moldados é a ironia. E não há nada mais irônico do que ver o país invadido por argentinos com seus cânticos e entusiasmo. E o Brasil decidindo o 3º lugar na capital federal no estádio mais caro do mundial, para o Gama e o Brasiliense jogarem a série B e C.
Torço para alguém? Não sei. Verei esta final de sangue doce. A Alemanha com seu trabalho de 10 anos coroado ou a Argentina levando Messi ao status (merecido) de semideus de Maradona. Quem vencer será merecedor e premiará o Brasil com chave de ouro no encerramento desta Copa surpreendentemente fantástica, única, emocionante.
E inesquecível.
Nenhum comentário:
Postar um comentário