A minha infância sempre
foi muito simples. Meus brinquedos eram poucos, mas envolviam duas grandes
paixões, que me acompanham até hoje: futebol e fórmula 1. Logo, graças a uma
dessas paixões, automaticamente, um brinquedo sempre se destacava: meus times de
botão.
Na garagem de casa,
sempre organizávamos grandes campeonatos. Normalmente, os torneios eram de
pontos corridos e de denominavam de “Copa Fruki”, pois fazíamos vaquinha e o
prêmio era 3 garrafas de Guaraná Fruki para o primeiro colocado, duas garrafas
para o segundo e uma para o terceiro. Normalmente, eu dividia uma das minhas,
pois fui tricampeão. Rsrsrs Os campeonatos aconteciam entre oito e dez
participantes. Mas, outra hora eu descrevo mais sobre isso.
Eu tenho uma diferença de
13 anos para minha irmã, Francielle. Então, por ser mais velho, como boa
caçula, era queria logo o que não lhe pertencia. Adivinha o que era: meus
botões!!! Coloridos, redondos, adesivados, seus olhinhos brilhavam a ver meus
craques e suas mãozinhas faziam movimentos de apertar para pegá-los. Eu,
querendo preservar as principais equipes, dava alguns botões de times
incompletos ou “puxadores”, botões mais resistentes. Mas, um dia, algo terrível
aconteceu...
Quando eu tinha 14 anos,
em muitos finais de semana, eu viajava até minha terra natal, Guaíba, para
visitar minha avó e meus primos. Eu morava em Gravataí. Uma distância de 40 km
entre as duas cidades. E eu sempre fui muito organizado com meus times de
botão. Eu tinha três caixas: uma para times brasileiros, outra para clubes
estrangeiros e, a última, para seleções. Por motivos óbvios, os guardava em
cima do roupeiro. Então, no retorno de um final de semana, nujma fatídica segunda-feira,
me deparei com uma cena aterradora, que ainda hoje mancha minha retina. Era a
minha caixa com as seleções, com os botões espalhados pelo carpete. Diego
Maradona partido ao meio. Zico em gemidos com seu adesivo rasgado. Platini
quebrado em vários pedacinhos. Rummenigge desaparecido no maior “botonicídio”
já visto na (minha) história do futebol de botão.
Após um momento absorto
pelo ocorrido, numa investigação minuciosa, descobri que, para cessar o choro
intempestivo da minha irmã, meu ex-padrasto foi ao meu quarto e pegou uma das
caixas. Diz a lenda que o pranto parou na hora, e que minha irmã, de tamanha
felicidade, no alto de seus dois aninhos de idade, parecia uma “pequena Godzilla”
destruindo Tóquio, pisoteando os maiores craques de todos os tempos. Van
Basten, Carlos Manoel, Tardelli, Gerets, Francescolli, Breitner, Butragueño,
Laudrup. Não sobrou ninguém.
No final das contas, como
eu sempre comprei a Revista Placar e colecionava seus escudinhos, meus times de
botão se transformaram em times estrangeiros. Foi o único brinquedo que guardei
da minha infância. O resto, graças ao bondoso coração de minha mãe, Dona
Cleusa, doamos.
Um pouco antes da Copa de
2010, ao descobrir os sites de escudinhos, acabei retomando minha antiga
paixão. E refiz minha coleção de times de botão. Hoje, tenho 48 seleções,
incluindo União Soviética, Iugoslávia, Tchecoslováquia e Alemanha Oriental, pra
ver como sou velhinho!!!
Hoje, minha irmã está
adulta, linda, e me presentou com uma afilhada tão linda quanto ela, que sempre
que recebo sua visita, jogo botão com ela. Mas, ainda cobro da Dona Francielle
Ribas as vítimas da grande tragédia da “pequena Godzilla”. Espero que, após 23
anos desta hecatombe, ela se comova com a Copa e me presenteie com Ribery,
Hazard, Cristiano Ronaldo, Pirlo e Iniesta.
rsrsrs
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